ESCRITOS OUTONAIS

12.20.2007

OS MEUS VOTOS DE NATAL

Foto baixada de
www.marcnorton.us/mediac/400_0/
com a devida vénia



OS MEUS VOTOS DE NATAL

Já o Natal aí vem
Já está tudo iluminado
Todo o mundo anda contente
Mas por demais sabe a gente
Como isto está tudo errado

Vivem uns na opulência
E a outros tudo escasseia
Cultiva-se a arrogância
E a cupidez, a ganância
Por todo o lado campeia

As bocas falam de amor
Mas só ódio é que se vê
Em vez de paz é a guerra
Que impera por toda a Terra
E sem se saber porquê

A honra é palavra vã
Ideais já ninguém tem
É ver quem mais se “abotoa”
Que importa a quem isso doa...
Que grandes filhos da mãe!

Todos acham que a razão
Está sempre do seu lado
Eu sou “o bom”, tu “o mau”
Eu tenho o pão e o pau
Tu vais ser exterminado

Matam alguns por Alá,
Por Buda ou por Jeová
E outros pelo Deus cristão
Mas o nome verdadeiro
Do seu deus, “tão justiceiro”,
É o supremo deus “Milhão”

Em sonhos eu alimento,
Ai de mim, esperanças vãs,
De um dia quando acordar
Já não haver mais lugar
P’ra Bushes nem Talibãs

De não haver já “bons” e “maus”
E de o mundo ser capaz
De viver de forma tal
Que a palavra Natal
Signifique apenas: PAZ!
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Fiz este versos no natal de 2002.
Mantém a mesma actualiade
Renovo por isso os mesmos votos
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Veja também o meu otro blogue

12.08.2007

PARA ALÉM DA MORTE...

MEMÓRIAS DE MOSCAVIDEDOS MEUS VINTE ANOS

(Ou a estúpida maneira de viver de uma juventude desocupada, nos anos cinzentos da ditadura, que outra não tinha para nos oferecer)

Naquele tempo – refiro-me ao fim dos anos quarenta, princípios de cinquenta - por volta dos meus vinte anos - os jovens, designadamente os de Moscavide, não tinham muito onde se divertir.

A televisão ainda não tinha chegado ao nosso país. Computador, play-station, game-boy, walkman, internet, DVD, MP3, e outras ofertas da actual tecnologia, que qualquer puto conhece, domina e não dispensa mesmo, eram coisas que nem sequer como palavras existiam.

Droga, era outra palavra que de todo não fazia parte do nosso vocabulário, a não ser para designar produtos de drogaria - as simpáticas e coloridas lojas hoje em vias de extinção - onde eu ia comprar petróleo, bolas de naftalina ou cloreto de potássio, a pedido de minha mãe, ou brilhantina e laminas nacet para meu uso pessoal, e onde eu, aliás, ia sempre de bom grado, quanto mais não fosse para ter a oportunidade de ver a eleita do meu coração, que era caixa da “Drogaria Leitão”, embora para isso tivesse de ignorar a “Drogaria Fénix”, a que mais perto ficava de minha casa.

Então como é que a malta se entretinha nesses desprovidos e recuados tempos?
Na parte da manhã, os que tinham mais vagar, iam até à chamada praça, uma correnteza de barracas mal amanhadas, com uma enorme palmeira ao meio, implantadas no centro da Rua Artur Ferreira da Silva, logo a seguir ao chafariz público – nas quais funcionava o único mercado de peixe, hortaliças, fruta, ovos, criação, etc, então existente em Moscavide.
Era aquele o lugar mais indicado para encontrar, apreciar e eventualmente abordar ou mimosear com piropos – de muito mau gosto quase sempre, diga-se - o mulherame que vinha às compras para o almoço ou abastecer-se de água para variados usos domésticos, já que durante o resto do dia dificilmente voltariam ser vistas na rua e quando muito entrevistas à janela, ou espreitando por detrás das cortinas.

Na parte da tarde, ou se ia ao banho no rio, no Verão quando o calor apertava, ou se ia para a sombra das árvores do “taludo” contar histórias, ou se coçava o cu pelas cadeiras do Café do “Britinho das garotas”, ou se jogava matraquilhos no pátio do Salgado, ou em qualquer outro dos inúmeros tascos que então ali existiam, ou se ia até ao “jardim”, onde se davam uns chutos numa bola que misteriosamente sempre aparecia, vinda não se sabe de onde, ou que expeditamente se improvisava, nem que fosse com uma embalagem de lata vazia.


Na verdade, o espaço que pomposamente todos designavam por jardim não passava, na altura, de um vasto rectângulo pelado, de terra batida, com ervas e urtigas crescendo nos sítios menos pisados, e ladeado de plátanos – os mesmos que ainda hoje lá se encontram – plantados em 1940, numa cerimónia tão ao gosto do chamado Estado Novo, que então comemorava com festivos eventos ao longo de todo o país o 8º centenário da proclamação da independência, dos quais o mais notável era a Exposição do Mundo Português, a qual teve para o ego dos portugas o mesmo sabor que a recente e aclamada Expo 98.


Parece-me estar a ver ainda a cerimónia da plantação desses plátanos: A clássica e eterna figura de uma qualquer entidade oficial a deitar umas pazadas de terra sobre as raízes das frágeis e esguias vergônteas em covas que outros anteriormente tinham suado a abrir (o costume!): o estrelejar de foguetes, a estridência dos clarins dos bombeiros, as bandeiras das colectividades e a garotada das escolas, de braço estendido na saudação fascista recentemente introduzida pelo doutor Salazar e cantando, fora de tom e cada um para seu lado, o “Lá vamos cantando e rindo” de execrável memória... Uma festa! E nós, os putos, “na maior”, pois não tivemos aulas nesse dia.


Diga-se de passagem que, apesar de nas paradas e na escola cantarem o hino da Mocidade Portuguesa que tinham obrigatoriamente de aprender, os putos não andavam a dormir na forma, pois entre eles, à socapa, se entretinham a recitar uma quadra então em voga, a qual levaria certamente à prisão se dita por uma adulto e ouvida por um agente da PVDE (era esta a sigla que então designava a polícia política ) ou de um dos muitos bufos ao seu serviço e que era assim: O António há-de morrer/ A Oliveira há-de secar/ O Sal há-de derreter/ E o azar há-de acabar.
Infelizmente a ingénua profecia tardou em cumprir-se e só muito mais anos mais tarde o nosso azar iria conhecer o tão ansiado fim .


Mais jovens do que eu, ainda lá estão os plátanos que, em menino, vi plantar.


Agora, uma dezena de anos depois, lá andavam, mais crescidinhos, os putos de então, matando o tempo, enquanto não acabam os estudos ou ainda não arranjaram emprego, aos chutos na bola, à espera do jardim que só anos mais tarde viria a ser desenhado e implantado e cuja traça foi recentemente alterada – para pior, na opinião de alguns, que não da minha.


De quando em vez ali se montavam circos, cujos espectáculos ninguém se permitia perder, dada a escassez de divertimentos de que venho falando. Certa ocasião foi ali improvisada uma praça de touros, onde entre outros actuou o famoso matador Diamantino Viseu e um jovem da terra o Victor barbeiro que, de acordo com a máxima de que “ninguém é profeta na sua terra”, não escapou a ser alvo de chacotas e “olés”, que tinham mais de troça do que de aplauso.
Mais frequentes, no entanto eram a rodas de cavalinhos, os carrosséis ou, mais tarde, pistas de carrinhos de choque e sobretudo barracas de tiro, onde a malta exercitava a pontaria a partir cacos ou a tentar acertar numa minúscula paleta de metal que, ao ser atingida, desencadeava um mecanismo susceptível de provocar uma pequena explosão cujo estampido se assemelhava a um tiro de canhão - sendo “canhão”, precisamente, o nome porque era conhecido.


Verdade seja que, mais do que demonstrar as suas performances como atiradores, o que aliciava a rapaziada era a possibilidade de desfrutar o contacto com as empregadas – umas manhosas com montes de pintura a disfarçar as mazelas do rosto precocemente envelhecido, enquanto nos elanguesciam com remelosos e sabidos olhares e nos faziam boquinhas, no estudado e irrecusável convite “Ò querido vai um tirinho?”


E nós a “fazermo-nos de Lucas”, “que não sabíamos atirar” e ela fingindo acreditar e oferecendo-se para nos pegar na mãozinha a fim de nos guiar no jeito de pegar na arma e apoiar o cano no seu ombro, encostando seu rosto ao nosso, enquanto nós, “para maior segurança”, com o braço esquerdo a enlaçávamos pela cintura.

Enfim, um estudado jogo de sedução (meramente profissional da parte dela, mas irrelevante para quem tinha 20 anos e raras ocasiões de contacto físico com elementos do sexo feminino) susceptível de nos provocar um elevado grau de excitação que, não poucas vezes, conhecia o seu epílogo em aprazados encontros em qualquer descampado das vizinhanças, de onde se regressava com a roupa suja de terra e cheias de praganas de feno ... e menos uns cobres no magro porta-moedas


A propósito de circos e de barracas de tiro, poucos haverá ainda em Moscavide que se lembrem que, antes de haver o tal quadrilátero, doado pela família Patacão para a construção do jardim, o espaço onde se instalavam essas diversões era um terreiro situado no centro mesmo da freguesia, no cruzamento da Rua António Luís Moreira (actual Rua Salvador Allende) com a a Rua Artur Ferreira da Silva e que a seguir esse descampado, para o lado norte, havia uma fábrica de cartuchos e uma fábrica de champanhe, e que no lado nascente, a caminho do "apeadeiro", se situava a "Vivenda Felicidade" - uma fila de casas térreas em cujo passeio havia uma bomba de água salobra, a qual, em vez de ser accionada pela habitual alavanca de movimento vertical - como várias outras que por lá existiam - a água era puxada através do movimento rotativo de uma enorme e pesada roda de ferro - o que constituía uma permanente e ruidosa brincadeira para a garotada e dava motivo a constantes ralhos, quando não algum tabefe, por parte dos moradores.


E o Carnaval? Quem é que, no Moscavide de hoje, consegue acreditar que nos primeiros anos da década de cinquenta, nos Domingos e Terças-feiras de Carnaval, a Avenida, de forma absolutamente espontânea e improvisada, se enchia com muitos milhares de foliões mascarados, momos, marafonas, em brincadeiras hilariantes, e ao longo de todo o seu percurso se travavam frenéticas e aguerridas batalhas de serpentinas, saquinhos, água, milho, ovos, farinha entre os transeuntes e os moradores e sobretudo as moradoras que se acumulavam, aos grupos, nas janelas, varandas e terraços dos prédios circunvizinhos, até que a noite caía e as pessoas se recolhiam para jantar e prepararem-se para continuar a festa em bailes particulares ou em colectividades, cinemas e outras casas de diversão?


Pois acreditem que era mesmo assim. E duvido que houvesse no país um carnaval, "não-organizado", tão divertido e que juntasse tanta gente no mesmo local, como o de Moscavide nesses tempos.


Mas voltando aos divertimentos dos jovens, tirando os extras e ocasionais que atrás referi, durante a noite, ou se continuava a surrar as calças (que nesse tempo era de bom tom manter impecavelmente vincadas) nas cadeiras de um Café, ou se iam papar dois filmes seguidos no cinema do Raul Antunes, ou se ia namorar, à janela, claro, que o respeitinho era muito lindo (e felizes os que dispunham de uma janela rasteirinha, furtando-se assim aos inevitáveis e dolorosos torcicolos que as janelas dos andares mais altos provocavam), ou se corriam as “capelinhas” bebendo um copo aqui outro além, ou se ia a um dos muitos pátios ou quintais então existentes provar a água-pé de um amigo, a qual convinha repetida e calorosamente elogiar como “a melhor que se tinha provado naquele ano”, ou se ia comer umas postas de Bacalhau assado nas “Portas Verdes” ali ao "sobe-e-desce", quando a disposição não dava mesmo para ir até ao Gajeiro, em Sacavém, mesmo em frente ao portão da Fabrica da Louça, o qual tinha merecida fama e justo proveito de servir uma das versões grelhadas do fiel-amigo mais apetecíveis da região.
Meu deus, onde é que isso tudo já vai!


Nas noites mais quentes de Verão toda a gente vinha para a rua. A Avenida, onde raramente a essas horas passava um carro e que quando passava tinha de aguentar pianinho, pois ninguém se desviava, enchia-se de grupos de raparigas que, abraçadas que se passeavam, rua abaixo rua acima, seguidas por grupos de rapazes que lhes atiravam piropos que lhes provocavam risinhos e galhofas, até que a noite começava a refrescar, as jovens se recolhiam e a malta regressava à pasmaceira dos Cafés, jogar poker, bilhar, trocar impressões sobre as miúdas, discutir se a Amália Rodrigues era melhor que a Hermínia Silva, se o Peyroteu era melhor ou pior que o Espírito Santo, se o Diamantino Viseu toureava melhor que o Manuel dos Santos, se o Alberto Ribeiro era ou não larilas, e outras instrutivas e brilhantes conversas sobre temas parecidos ou afins.


No Café do Britinho, onde o serviço era assegurado por mulheres jovens, por quem todos, sem excepção, estavam sempre torridamente apaixonados e todos, por igual, se julgavam inteiramente retribuídos (ai as peneiras daquela idade!) havia uma máquina automática de discos, que nos debitava ininterruptamente e em altos decibéis (vocábulo aqui usado para impressionar, mas que na altura nos era totalmente desconhecido) a voz dos cantores da época: O Bing Crosby, o Frank Sinatra, o Dick Farney (Copacabana és princesinha do mar) o Luís Gonzaga, a Cármen Miranda e outras que tais brasileiradas, além da Amália, da Hermínia do Alberto Ribeiro, do Max – alguns dos nomes portugueses então mais badalados.


Aos Domingos, havia as matinés no Clube Familiar Moscavidense, carinhosamente designado por “Familiar” - ocasião rara para se conhecerem miúdas e se arranjarem namoricos de onde saíam alguns casamentos e não poucos engates ocasionais, sobretudo com frequentadoras estranhas à terra e que corriam os bailes das colectividades de recreio, precisamente como forma de valorização curricular das suas apuradas técnicas de engate.


No Carnaval e em certas ocasiões especiais – “Noite da Primavera”, “Noite do Perfume” e outras (recordo particularmente estas porque, fazendo parte de uma das Direcções, tive papel directo na sua organização) – havia bailes que duravam até ser dia, ou récitas onde os amadores do Clube representavam hilariantes comédias ou pungentes dramalhões, que acabavam também por ser seguidos de baile durante o resto da noite, só interrompido, volta não volta, com o imperativo convite de “Damas ao bufete” por parte do animador de serviço. Era esta uma forma expedita de, numa irrecusável demonstração de “cavalheirismo”, obrigar a malta, tesa quase sempre, a abrir os magros cordões à bolsa e deixar mais uns cobres na caixa do bar, onde o “Zé Formiga” confeccionava as suas apetitosas bifanas e sanduíches várias e o Arménio Silva, tesoureiro do Cube, impingia a variada gama de pastelaria do Café Viseu, de que era proprietário.


Foi com o mestre “Zé Formiga” (José Caetano de seu nome) que eu aprendi o truque de fazer sandes de fiambre com manteiga sem que o pão sequer a cheirasse. Então era assim: passava-se o gume da faca pelo pacote da manteiga, de forma a que o “cliente” constatasse que esta vinha bem guarnecida do apreciado lacticínio e de seguida, com rapidez, destreza e demonstração de grande virtuosismo profissional, barravam-se repetidamente as duas metades da carcaça (que então se chamava papo-seco, tomem nota) apenas com as costas da dita faca, onde a manteiga se mantinha praticamente intacta e o pão se quedava, praticamente, com a única gordura que o fiambre lhe emprestava. Enquanto isto, convinha ir entretendo o “cliente” com divertidas chalaças (e o Zé Formiga era mestre nisso) e terminar com um complacente “toma lá e não digas que vais daqui. Olha que isto é uma sandes para amigos”.

Ora! Acompanhada de um copázio de tinto carrascão (era o que a malta bebia nesses recuados tempos) aquela sandes especial escorregava pela goela que era um ver-se-te-avias. Era tudo a bem do Clube! E a verdade é que foram carolas como ele, como o Manuel Soares, como o Sargento Faria e tantos outros que mantiveram acesa a chama do associativismo recreativo, numa época em que essa era uma das poucas maneiras de as pessoas se encontrarem e conviverem ultrapassando o cinzentismo de um dia-a-dia sem grandes horizontes, mas também de se cultivarem e mesmo, em muitos casos, de se organizarem e conspirarem contra o regime

Grande "Zé Formiga"! Tivesse-me eu dedicado à mui nobre e respeitável actividade da exploração comercial de secos e molhados, e hoje pediria meças ao Belmiro de Azevedo, mercê dos teus sábios ensinamentos de economia aplicada, em vez do pé-rapado que realmente sou. Azares!


Em toda a parte e em todos os tempos os jovens têm uma natural inclinação para constituir grupos próprios, com hábitos comuns, tiques comuns, frequência conjunta dos mesmos lugares (curtir em conjunto, como agora se diz) .. enfim uma espécie de clã, com regras e códigos de comportamento próprios e um espírito de fraternidade mais forte ainda do que a que reina normalmente entre irmãos – o que os leva a imaginar que tal espírito se irá prolongar pela vida fora. Quanta ilusão!


O meu grupo, que nós designávamos sempre como “a Malta”, além de não fugir à regra, porque era constituído, na sua maioria por antigos escuteiros, com uma convivência diária que datava de mais verdes anos, era, por tal motivo um dos mais numerosos e coesos que então malandravam pelos dias e pelas noites de Moscavide. Tanto assim que, passado mais de meio século, continuam a encontrar-se e a celebrar essa velha amizade, na noite de São Martinho, todos os anos, sem nunca falhar (os sobreviventes, claro) e sem nenhum aviso ou convocatória, além da que consta do juramento que se fez no longínquo São Martinho de 1950. É o chamado “Grupo do Crisântemo”, a que já em outros escritos me tenho referi.


Ora, desse grupo, eu era seguramente o mais assíduo frequentador de cinema, de que sempre gostei e tanto que viria a ser, posteriormente, fervoroso adepto do movimento cine-clubista.

Certa noite, ao regressar do Cinema, com o papinho confortado com a fruição dos dois filmes (dois) da praxe, além de um documentário ou jornal de actualidades e de um desenho animado – o menu completo que nunca falhava nos cinemas ditos de reprise - deparo com cinco elementos do meu clã, cada um mais bêbedo do que o outro, em ruidoso conclave junto à porta do Café Viseu (de saudosa memória) – o qual nunca tinha pressa de fechar e por muito tarde que o cinema acabasse, havia a certeza de o encontrar ainda aberto.


Mal me descortinaram, logo, num tom de voz de que nem eles se davam conta que fosse tão elevado face ao adiantado da hora, logo começaram a chamar-me para os iluminar com a minha abalizada opinião (não andara eu no seminário?) sobre o tema transcendente que – com a proverbial e pertinaz teimosia dos bêbedos – vinham há horas discutindo: “O que é que há para além da morte?”
Estou feito, pensei. Mas logo uma ideia me ocorreu: Entrei no Café, cheguei-me ao balcão dirigi-me ao Eduardo, genro do proprietário, o Arménio Silva e encomendei 6 taças grandes de vinho branco. Não era essa a minha cor preferida para consumo do aprecado nectar mas era a única que a lei permitia fosse vendida em Cafés e Leitarias.


Os meus amigos, que entretanto tinham entrado atrás de mim na expectativa de conhecer a minha teoria sobre as suas esotéricas preocupações, preparavam-se para emborcar - no estado em que estavam mais um menos um tanto lhes fazia – uma dos taças que cada um pensava corresponder-lhe, das seis alinhados em cima do balcão, quando eu peremptoriamente os desiludi: “Alto aí! Vocês já têm a vossa conta. Estes são todos para mim” E um após um, perante o olhar incrédulo do bom do Eduardo e indiferente aos veementes protestos dos meus indignados amigos, virei, estoicamente, os seis intermináveis copázios.
Virei-me então para os insuspeitados, e expectantes pesquisadores dos mistérios do Além e já então em posição de justa igualdade, desafiei: “ora vamos lá agora discutir o que há para além da morte”


Foi uma discussão tão viva, tão profunda, tão avinhada, que acabámos todos no 100 da Rua do Mundo[1], de onde saímos raiava já o dia, com as carteiras mais vazias, a boca a saber a papel de música, tremendas dores de cabeça, e a sensação de que sabíamos um pouco menos sobre os mistérios do Além, do que na noite anterior quando nos encontráramos à porta do inestimável Café Viseu.
Queridos Amigos dessa noite e de muitas outras noites e dias da nossa juventude, vós os que já passastes a fronteira para o lado de lá daquilo que a por cá chamamos vida, será que sabereis agora responder às questões que nessa noite nos apoquentavam?


Julgo bem que não. Mas mas se souberdes, Amigos, e se houver mesmo algo para além da morte (do que tenho cada vez mais dúvidas) guardai-me um lugar à mesa de um dos Cafés aí do sítio, talvez no Café “Cantinho do Paraíso”, para em amena cavaqueira, no decorrer de umas partidas de poker, me contardes as vossas descobertas, me pordes ao corrente de como se passam as coisas por aí, e nos rirmos dos disparates que fizemos no breve tempo que nos foi dado morar por cá, no minúsculo pátio-térreo perdido na imensidão do infinito espaço sideral.
Até breve, Amigos! Logo, logo, estaremos juntos.
Como dantes…

______________

[1] Casa de “meninas” muito conhecida na antiga Rua do Mundo que, apesar de na altura já ter oficialmente o nome de Rua da Misericórdia, ainda a maioria das pessoas designava por Rua do Mundo .

12.07.2007

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António Melenas