9.03.2007

PARTISTE...


PARTISTE…


Maria foi a minha primeira namorada.
Não deu certo. Ainda hoje não sei bem porquê.
Os pais mudaram-se para outra cidade
e nunca mais nos vimos,
nem dela tive notícias desde 1952.
Mas nunca a esqueci.
A primeira namorada nunca se esquece.
Garantiram-me há tempos que tinha morrido.
Fiquei imensamente triste, claro,
e em sua memória compus este soneto.

Afinal, parece que a notícia não era verdadeira.
Parece. pois dela continuo sem nada saber.
Sei apenas que, se for viva, será uma velhinha como eu,
pois terá agora (2007) à volta de 77 anos
O Poema, porém, é verdadeiro
e permanecerá, para além de nós

_____________

Partiste (e contigo ainda sonhava)
Para a viagem final e sem retorno...
Ficou mais feio o mundo, sem o adorno
Que o teu formoso rosto lhe emprestava


E assim perdi de vez qualquer esperança
De poder vir um dia a encontrar-te.
Agora, só me resta recordar-te
Com magoados olhos da lembrança


Mas logo que escurece e morre o dia,
Me deito e adormeço, por magia,
Tu chegas tão real junto ao meu leito,


Que embarco na ilusão, ao acordar,
De que só morrerás se eu te matar
Um dia, bem no fundo do meu peito

__________________


1988




23 Comments:

Blogger Maria said...

Nem imaginas, querido António, como este teu soneto me tocou. Cá bem no fundo...
É bem certo que quem partiu só morre se nós os matarmos, também cá dentro....

E não é por acaso que o ditado diz:
"Não há luar como o de Janeiro nem amor como o primeiro".....

Um abraço apertadinho
e um beijinho

04 setembro, 2007 00:44  
Blogger Paula Raposo said...

Sempre muito belo o que escreves!! Sem dúvida...muitos beijos.

04 setembro, 2007 11:54  
Blogger Maria Carvalhosa said...

Está muito bonito, António!

Beijos.

04 setembro, 2007 16:58  
Blogger Elsa Sequeira said...

Como gosto de te ler!!!


Hoje venho convidar-te para lançaraes ao mar a tua mensagem... na garrafa!

Bjts

04 setembro, 2007 21:40  
Blogger Poemas e Cotidiano said...

Antonio,
O primeiro amor realmente nunca se esquece. E que belo soneto voce fez para a sua Maria. Acho que eh tudo tao mais lindo em nossa lembranca, nao eh assim?
Muito lindo...me emocionou.
Um beijo
MARY

05 setembro, 2007 12:12  
Blogger Teresa David said...

Concordo imenso com a �ltima estrofe do poema, pois, tamb�m creio que as pessoas s� morrem quando as matamos dentro de n�s, ou, ficam no esquecimento de todos.
Bjs
TD

05 setembro, 2007 15:01  
Blogger Isamar said...

Olá, António!

Não é a primeira vez que acabo um poema teu com as lágrimas nos olhos. Que maravilha, Poeta!É certo que o primeiro amor nunca se esquece mas relembrá-lo com esta ternura, esta saudade, este imenso amor passados tantos anos só acontece a um homem que muito amou a sua primeira namorada. Fiquei encantada e não tenho palavras para te agradecer o agradável momento de leitura que me proporcionaste apesar da comoção.
Deixo-te mil beijinhos e, olha, velhos são os trapos.

05 setembro, 2007 16:10  
Blogger Eme said...

António, António..
Fiquei com o coração cheio.. Ocorre-me apenas que é lamentável que as pessoas estejam tão longe umas das outras. Também fiquei a gostar da Maria.
Beijo grande

05 setembro, 2007 19:22  
Blogger david santos said...

Olá, António!
Mais um tirado da "cartola".
Mas a última estrofe é um sonho...
Parabéns.

05 setembro, 2007 21:58  
Blogger Licínia Quitério said...

Muito bonito, Amigo.

Os amores só morrem connosco, não é?

Beijinho.

06 setembro, 2007 11:51  
Anonymous Anónimo said...

António, em primeiro lugar as minhas sinceras desculpas pela ausência.
Mil razões poderia argumentar, mas de todo não. Apenas uma: cansaço!
Maior que tudo, maior que a força, igual à inércia ... mas mantive em mente o abraço que agrega esta rede de poesia e fraternidade. E o meu amigo está nele!

***
Adiante:
Aproveitei p/ reler alguns dos meus livros favoritos. Entre eles, Alves Redol. "Histórias Afluentes". (estou agora a ler "Marés" ...)

Este poema delicioso fez-me recordar o conto da "Vendedeira de figos".
Ambos falam da ternura de um primeiro amor, com ou sem contacto físico. Lindos, ambos!

Agora, António, vou descer a leitura e ler o atrasado.

Deixo-lhe aqui a expressão do meu apreço ao que escreve.

Um abraço da Mel

06 setembro, 2007 16:18  
Blogger Klatuu o embuçado said...

Belo poema.
Abraço!

07 setembro, 2007 00:43  
Blogger Eme said...

A caminho de Oz.. deixo te um beijo de bom fim de semana. Grande abraço. E dá-me notícias sobre ti por mail tá?? Já volto.

07 setembro, 2007 08:20  
Blogger a d´almeida nunes said...

Caro António
Bonito soneto, sentido, intemporal?
Escrevo esta nota só para dizer (porque é que senti esta necessidade?!) que vivi um sentimento parecido. Há já muitos anos...em circunstâncias mais dramáticas (talvez!?).
Um abraço
antonio

07 setembro, 2007 12:02  
Anonymous Anónimo said...

ahh..meu querido Ant�nio..e tu l� matar�s algu�m algum dia..
matar�s sim...mas de alegria
matar�s a raiva e a agonia
matar�s de amor..tua Maria.


mil beijinhos raivosos de n�o te poder abra�ar como queria.

07 setembro, 2007 15:48  
Blogger Páginas Soltas said...

Meu querido amigo Escritor e poeta,

Foi uma tarefa muito difícil para mim... escolher um poema ou um textos dos teus para te atribuir o prémio. Como gosto de todos... Escolhi um texto ao acaso.

Porque meu amigo... Aqui... É tudo Caneta de Ouro.

Peço- te que vás buscar os prémios.. Oferecidos com o merecimento devido!

Beijinhos da

Maria

07 setembro, 2007 19:26  
Blogger Luso-Poemas said...

Olá Sr. António. Encontrei este espaço através de um outro de nome :"Do fundo da arca" (indicado por Luis Gaspar). Gostaria muito que pudesse participar em Luso-Poemas. Um espaço onde se divulga a poesia escrita na Lingua de Camões. Sería um previlégio contar consigo.
http://www.luso-poemas.net

O administrador
Ricardo Costa

10 setembro, 2007 01:09  
Blogger Pepe Luigi said...

Caro António,
Possivelmente surpreendido por este meu afastamento quase de dois meses. Estou em meu crer que foi por minha falta de inércia, mas de novo voltei ao convívio.

Este teu soneto é digno de realce pelo tema nele transcrito: Saudade, para a qual não há velhice.

Um abraço do amigo
Pepe.

10 setembro, 2007 12:57  
Blogger António Melenas said...

Para LUSO POEMAS:
Não é a primeira vez que a Luso- Poemas me convida a participar com poemas meus no seu excelente site. Convites que muito me honram e agradeço. A minha produção poética, contudo (aquela que considero digna de mostrar) não é muito vasta e gostaria, se possível de a ver reunida num pequeno livro. Sendo assim, sinto algum relutância em a dispersar por publicações avulsas. Também a prosa gostaria de a ver publicada, mas essa é mais complicada pois daria um livro algo volumoso.
De qualquer modo, aqui fica o meu sincero agradecimento a Luso-Poemas, pelos seus amáveis convites

10 setembro, 2007 13:15  
Blogger LUIS MILHANO (Lumife) said...

Não há amor como o primeiro diz o povo e até tem muita razão (como sempre...).

Belas palavras de amor que só os apaixonados entendem.

Quem não viveu momentos iguais não pode compreender quanto sofre um coração.

Abraço amigo

10 setembro, 2007 15:24  
Blogger Manuel Veiga said...

soneto perfeito! de sonoridades muito belas.

abraços, meu Amigo.

10 setembro, 2007 17:18  
Blogger Odele Souza said...

Antonio,
Um amor que permanece na lenbrança e mesmo tendo se passado tanto tempo, inspira um texto tão belo.
Lindo e comovente.
Fique com meu carinho.

18 setembro, 2007 06:05  
Blogger MARIA said...

Caro António,
Recordo que foi das primeiras pessoas a comentar o meu espaço quando criei o meu Maria.
Eu não o esqueci.
Hoje, ao visitá-lo, não pude deixar de encantar-me com a sua capacidade de enamoramento pela vida.
Um beijinho.
Maria

03 outubro, 2007 22:55  

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