5.18.2007

A UNS OLHOS LINDOS

Foto A.Melenas


UNS OLHOS LINDOS



Tão o triste é minha vida, que em abrolhos

Se convertem meus mais doces anelos

Mas julgo estar no céu, quando meus olhos

Têm a dita de ver teus olhos belos


Oh! No céu, sim no céu! Que não será

Mais puro nem mais belo o céu infindo !

Nem mais doçura, não, mais não terá

Do que doçura tem teu olhar lindo


Quando os cílios baixos, com candura,

Te velam o olhar casto e pudibundo,

Eu julgo vislumbrar, em tal postura,

Um anjo divagando pelo mundo...


Há por esse mundo coisas belas

Que, de tão belas, vê-las é pasmar

Pois eu trocaria toda elas

Pela incidência em mim do teu olhar


Em mim tua imagem está gravada

E de ti a minha vida está suspensa

Não quero nem preciso ver mais nada

Dos teus olhos me basta a luz intensa


Não há outra beleza que me encante

Meu conceito do belo está ruindo

Só porque o meu olhar, em certo instante,

Cegou perante a luz de olhar tão lindo

_______

Pois, pois, se calhar é por isso que hoje sofro de cataratas

1946 ( com 17 anos, ainda no Seminário)

25 Comments:

Blogger sofialisboa said...

desafio meme para ti.. bom fim de semana sofialisboa

18 maio, 2007 15:03  
Blogger Isabel said...

Oh António meu amigo, isso é que era um seminário.

Cego pelos lindos olhos da cachopa e enfiado no seminário não havia a vida de ser triste.

Daqui se vê que já com 17 anitos encantavas as raparigas com a tua poesia na altura tão pura quanto as puras e candidas donzelas que te faziam perder de encantos.

Hoje, talvez não seja tão puro o teu olhar pois não é tão puro o mundo e a verdade e que nunca lhe fechaste os olhos e viste muito do que querias ver, viste aquilo que não querias, e não viste aquilo que não te deixaram e gostarias...
Talvez não tenhas a mesma pureza mas tens mais para ensinar e por certo tens mais graça.

Eu mais uma vez através dos teus olhos, com cataratas e todu vi como era um rapaz de 17 anos em 1946 em Portugal- Isto sim são as boas viagens no tempo.

Um enorme abraço meu amigo.

Isabel

18 maio, 2007 15:06  
Blogger david santos said...

Bom fim-de-semana, António.

18 maio, 2007 20:48  
Blogger Paula Raposo said...

Quadras onde se notam bem os termos utilizados na época, por seres sensíveis e apaixonados! Penso que o meu Pai também escreveu dentro do estilo. Adorei, António. O teu comentário final àcerca das cataratas é bem ao teu jeito. Muitos beijos.

19 maio, 2007 07:30  
Blogger Eme said...

Quanto mais te leio mais penso que estares no seminário era uma prisão.. não perdeste demasiado tempo lá? devias andar pelas ruas a recitar estas belezas às moças com que te cruzavas. Serias uma espécie de D. Juan não? Hum.. pensando bem,se calhar foi melhor andares no seminário. Nenhuma moçoila estaria a salvo nas tuas mãos hehehe
Beijossss doce António ;)

19 maio, 2007 11:16  
Blogger António Melenas said...

Não é bem assim. Repare-se que este poema é muito casto e não fala propriamente de amor.É uma espécie de deslumbramento, um despertar difuso para sentimentos que ao amor se4nsual haviam muito brevemente conduzir e.... nessa altura, saí do seminário

19 maio, 2007 12:11  
Blogger Eme said...

Sim, casto porque tratando-se daquele tempo que remédio tinhas tu.. eras um cavalheiro. És! mas digamos que leio o poema talvez com outros olhos.. os meus ;) Não deixa de ser divinal. E ainda bem que saíste do seminário. Bjs

19 maio, 2007 15:07  
Blogger Pérola said...

Claro que o Seminário não tem nada a ver com isto, que são coisas do coração e, de todos os Padres que o foram e não o são mais, ficou sempre a marca de algo que os lévou até lá... Mas o deslumbramento não é apanágios dos 17 anos... apenas é necessário algo nunca visto para tal acontecer, seja em que idade for! Se aos 17 escrevias assim, agora é legítimo que se espere mais!... Beijos.

19 maio, 2007 15:25  
Anonymous Anónimo said...

Bom quando somos capazes de guardar numa caixa de emoções escritos de muitos anos.
Bom quando anos depois somos capazes de os submeter à crítica, ainda que os consideremos "naifs"... e, ainda por cima sejamos capazes de brincar
"Pois, pois, se calhar é por isso que hoje sofro de cataratas".


Gostei do que aqui li. Um poema terno, singelo.

Não conhecia este espaço. Voltarei com toda a certeza. Deixo o caminho dos meus espaços.

Um abraço
Mel de Carvalho

www.noitedemel.blogs.sapo.pt
www.maresiademel.blogs.sapo.pt

19 maio, 2007 16:59  
Blogger Codinome Beija-Flor said...

Amigo António,
Vc vê muito mais com o coração e com a alma doq eu propriamente com os olhos.
Me encanta ler seus poemas.
Inevitável lebra de uma canção, que alguém me cantava, diz assim:

"Este seu olhar
(Tom Jobim)
Esse seu olhar
Quando encontra o meu
Fala de umas coisas que eu não posso acreditar
Doce é sonhar, é pensar que você
Gosta de mim, como eu de você

Mas a ilusão, quando se desfaz
Dói no coração de quem sonhou, sonhou demais
Ah, se eu pudesse entender
O que dizem teus olhos"

Um grande abraço e um beijo cheio de afeto, sempre que venho aqui... levo uma nova esperança..............de que o amor existe sim.

19 maio, 2007 18:29  
Anonymous Anónimo said...

és o mais bonito dos homens meu deus,
e hoje choram meus olhos
pois não se encontraram c'os teus.
mas tens já meu coração
e tudo de bom que em mim há
não terás muito, talvez não
tens ás pázadas fervorosa admiração.

(gosto tanto, mas tanto da tua pessoa, que tava capaz de te pedir em casamento!)hehe..mil beijinhos apertadinhos..

19 maio, 2007 22:29  
Blogger Manuel Veiga said...

pois, pois... percebem-se as razões por que saiste do Seminário.

humanas razões! o teu conceito de belo estava ruindo... rss

gostei muito. abraços

19 maio, 2007 22:39  
Blogger Menina do Rio said...

Olhou demais?

A minha mão infatigável
procura o interior
e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo,
outro pulsar
para dar esperança
aos portos
que aguardam...

beijos

20 maio, 2007 01:24  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

António

É lindo o teu poema_____"Quando os cílios baixos, com candura"

Um beijo
BFSemana

20 maio, 2007 02:09  
Blogger foryou said...

Oh António de cataratas até pode sofrer mas compensa bem por também "sofrer" de poemas como este.

Um bom resto de fim de semana

20 maio, 2007 12:25  
Blogger Pepe Luigi said...

Caro António Melenas,
Passei por aqui e fiquei encantado com esta tua poesia em que os versos expressam sentimentos e orientação.
Do género Bucólico de sentido Idílio, expressa bem o poder da tua preciosa criatividade.

Um Abraço e Bom Fim de Semana.

20 maio, 2007 20:26  
Blogger Páginas Soltas said...

Das poucas visitas que posso fazer...esta não podia faltar!

Lindo poema meu amigo... que candura encontro em cada verso!

Sublime!

Uma boa semana

Beijinhos da amiga

Maria

21 maio, 2007 00:50  
Blogger Menina Marota said...

A tua frase final fez-me soltar uma gargalhada!

Realmente, perdeu-se porventura um Padre atento... à sensibilidade feminina ;)

É sempre um prazer renovado ler-te, e parabéns pela flor, esta e as anteriores... temos fotógrafo...e ficam lindas aqui!

Um abraço carinhoso e boa semana ;)

21 maio, 2007 10:47  
Blogger LurdesMartins said...

Gostei do poema, António. Mas gostei ainda mais da anotação final! Ahahhaahahha

Beijinhos

21 maio, 2007 11:34  
Blogger Cris said...

Em mim tua imagem está gravada

E de ti a minha vida está suspensa

Não quero nem preciso ver mais nada

Dos teus olhos me basta a luz intensa



é uma pena que, desde 1946, os homens tenham perdido a terna capacidade de serem galantes... Muito bonito, gostei muito!

Beijinho
Cris

21 maio, 2007 12:59  
Blogger lena said...

Querido António

que posso eu dizer, uma simples aprendiz de palavras quando leio poesia assim, cheia de encanto?

pensar duas vezes antes de tentar escrever algo

encantas e é sublime a poesia que leio, cheia de criatividade

encantei-me até com as tuas hortenses, ainda as “roubo” por uns momento para mim, flores lindas que tens no teu quintal

poesia e imagens na perfeição, eu só sei ler, deliciar-me, sentir e deixar-me envolver em tanto romantismo.

obrigada por estes momentos, aquecem-me a alma e acabam por me tocar

o meu terno abraço

beijinhos para ti, querido amigo

lena

21 maio, 2007 15:00  
Blogger Maria said...

Querido amigo António

Não sei porquê, acabei de perder o texto que estava aqui a comentar.
O blogger anda marado de todo.
Estava eu a dizer que venho por aqui, às vezes, e vejo o texto que já li. Passam 2 ou 3 dias, e ... pumba, textos novos.
Isto porque a minha falta de tempo está a impedir que visite os blogs que quero. Começa a ser dramático, porque eu quero ver todos e não há tempo que resista.
No meu tempo (e no teu, certamente) os seminários eram instituições de onde deveriam sair padres... castos, amando a deus e ao próximo, sem amor carnal sequer sentido.
Podes dizer-me que este poema é apenas belo (e é, muito), mas que está aqui um laivozinho de... como dizer... daquilo que nos faz estar vivos e a mexer, lá isso está...
Abençoado seminário que e fez despertar para a vida..

Beijinhos, Amigo

22 maio, 2007 01:29  
Blogger Licínia Quitério said...

Ora viva! Pois, foi no Seminário que começaste a ver anjos à tua volta. E vai daí, tu próprio ganhaste asas e voaste até ao Paraíso Terrestre.
Interessantíssimo retorno este que nos vais dando a conhecer.

Beijinho.

22 maio, 2007 13:52  
Blogger Bichodeconta said...

Ó António que maravilha este texto tão de outra época, tão actual também..Hoje as crianças continuam a deslumbrar-se com o que as rodeia.. Esse coração, essa alma, estão repletos de surpresas agradáveis que nos vai deixando , ora em verso ora numa prosa poética... Gosto muito do que escreve, sobretudo porque o faz com muita sensibilidade... Vc é uma pessoa muito especial certamente.. E ve ao longe .. Tão longe que me atrevo a citar António Aleixo..
Grande coisa é ser alguém.
Grande coisa é ser artista.
Ver as coisas mais além..
Do que alcança a nossa vista...
Um abraço António, voltarei aqui ..

26 maio, 2007 15:37  
Blogger Bichodeconta said...

E o prometido é devido... Voltei, e voltarei sempre que possa, a qualidade do que escreve merece a visita... E hoje junto-me ao seu protesto, á sua greve, á recusa de que se deixe destruir o pouco que resta das conquistas de Abril... Na luta por novos postos de trabalho com dignidade e que se renove a esperança das pessoas deste país que é o nosso, por isso nos cabe a nós lutar por ele...

30 maio, 2007 12:08  

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