TERESINHA
Este poema e a sua história constituem, só por si, um curioso objecto de estudo sociológico de uma época. Foi o primeiro soneto que fiz na minha vida. Foi na segunda metade da década de quarenta e teria então 17 ou 18 anos.
A Teresinha, era uma das várias filhas de uma família pertencente a um extracto social e económico, muito, mas muito acima do meu. E no entanto apaixonei-me por ela (também, nesse tempo - gaiteiros escoceses à parte - apaixonava-me por tudo que mexesse e usasse saia, diga-se em abono da verdade).
As chances de ser correspondido, na sociedade altamente estratificada e preconceituosa de então, eram completamente inexistentes. No entanto - o coração não olha a pormenores que ao coração são estranhos - dediquei-lhe este ingénuo e juvenil poema.
Como se verifica, trata-se apenas de um retrato, de uma homenagem, tipo amor cortês, ao jeito medieval. Não se vê aqui qualquer declaração de amor, ai de mim, como me atreveria?! E no entanto ela estava lá. Disfarçada, é certo, mas muito clara e muito directa.
Prevenido que está, o leitor deste “post”, não terá dificuldade em a encontrar. Quanto à destinatária nunca cheguei a saber se dela se apercebeu. É provável que não. O poema, contudo, tenho a certeza que o leu, lá ficou nas suas mãos e aqui o reproduzo. Mas atenção, onde agora escrevo “as tuas tranças”, na época escrevi “as suas tranças” . À época o respeitinho era muito lindo, sobretudo sendo ambos quem éramos. Nunca mais soube da Teresinha. Não sei sequer se ainda vive. Já tenho, por curiosidade, tentado descobrir o seu nome em diversas lista telefónicas, mas se casou, o seu apelido ter-se-á perdido em favor do marido.
Eram assim aqueles tempos. Também isto faz parte da história. A história das relações sociais neste país à beira mar plantado.
TERESINHA
Teresinha, as tuas tranças douradas
Emoldurando o alvo rosto lindo,
Recordam frescos goivos florindo
Em verdejantes leiras perfumadas
.
Saudosos tempos de moiras e de fadas,
Incautas donzelas no bosque dormindo,
Nobres fidalgos p’rà guerra partindo,
Homens de armas, lanças e espadas,
.
Ai, tudo lembra a tua loira trança!
A voz e o gesto de pundonor
Movem na mente, trazem à lembrança
.
O vulto de antiga dama de honor.
Tem alvo e fino lenço na mão branca
E a seus pés, sentado, um trovador
29 Comments:
Mas este soneto é lindo António, é óbvio que é uma declaração de amor...
E pensar que o escreveste quando tinhas 17 ou 18 anos?
Onde estão todos os teus outros escritos, para além dos que já aqui publicaste?
Um abraço
só que tu não mudaste; continuas um trovador,
de palavras sábias
um gentleman
um senhor.
Ah antónio.. digo-te.. naquela altura é que vocês homem deviam saber cortejar simmm! Os namoros à janela, os poemitas, os olhares marotos nos dias de festas populares/religiosas. São tempos com um sabior diferente mas que não ficam atrás deste nosso tempo em que tantos valores se parecem ter perdido. Beijo, eterno trovador!
ANTÓNIO!!!!!!!! descobri!!!!!! se lermos a primeira letra de cada verso, toda seguida aparece:
T E R E S I N H A A M O T E
Teresinha amo-te!!!
espectacular!! beijossssssss
Bolas tenho de ir à procura dessa Teresinha!! Tenho de lhe dizer antes que seja tarde! achas que ela não reparou? dasssssssseee António vamos lá procurar essa senhora e pô-la a adivinhar outra vez!!!
és tão esperta morganita!!!
Adorei ler o teu juvenil soneto!! Lindíssimo! Obrigada pelas palavras que deixaste nos meus espaços. Beijinhos meus.
Ainda bem que pôs os escoceses gaiteiros à parte, António! Mas olhe que você devia ser fresco... fresco e com queda para a poesia! O seu primeiro soneto disso nos dá conta!
Beijinhos
Fantástico!
Já o li e reli... uma felizarda a Teresinha... não pudeste dizer-lhe só:
"Teresinha amo-te" tinhas que escrever mesmo o poema... :-))))
"O vulto de antiga dama de honor.
Tem alvo e fino lenço na mão branca
E a seus pés, sentado, um trovador"
... e que belo trovador!!
Um abraço :-)))
Que pena! Agora que li os comentários, vi que já tinham reparado no "truque"... não fui a primeira!!
Bj :-)))
Olá Bom-dia! Gostei muito de ler este soneto mas também a sua apresentação.
Toda a sua envolvente me levou para um grande livro em que tudo também começa com uma troca de cartas e dura cinquenta e três anos, quatro meses e onze dias sem qualquer contacto entre os intervenientes. Aqui esse tempo até já foi ultrapassado mas a Teresinha não sabemos o seu destino..Será que está esperando pelo seu Florentino?
Só mais uma coisa: Estive novamente a reler o Post tempo de Trevas e cada vez o acho mais parecido com a tal Estrela de Seis Pontas que também fui reler!
Até breve
SE DEUS QUISER
Olá antonio, tenho andado tão ocupada que por aqui passo mas não tenho tempo para deixar uma palavra... a este trovador que é uma beleza... como é bom ler as tuas palavras! sofia
Grande António! Quando tiver a tua idade, espero ter essa vivacidade e criatividade. Parabéns.
Há nesses poemas, préteritos , que não fazendo parte do meu imaginário, desassossegos que "rasgam" o espírito pela actualidade da sua "mensagem".
Abraço.
É uma honra para mim, receber a visita do António...
Fiquei encantada com a sua memória ao passado...e a terna recordação de Teresinha...que lindo!!
Uma vénia a um digno poeta... António Melenas!
Beijo da
Maria
António, meu amigo e poeta
encanto-me com a tua poesia e não sei porque não sou Teresinha...
já sei tenho cabelo negro
este soneto toca e envolve, um amor jevenil, verdadeiro, sentido,
fica tanto por dizer
abraço-te com muita ternura e deixo-te um doce beijo meu
lena
costuma dizer-se que termina o soneto "com chave de oiro". atrevo-me a "subverter" a equação. é o texto introdutório que encerra "com chave de oiro", ou seja, com juvenil, freco e terno soneto...
apetece-me acrescentar: quem assim vive, merece a vida!
Pela primeira vez visitei o seu espaço e digo-lhe... adorei.
Vou voltar, garanto.
Faço daqui um convite para passar em "minha casa" , que tem sempre aberta a porta aberta a quem vier por bem.
bjos e bom fim de semana
Ana Patudos
Conte qual foi a reação dela?
E quanto tempo durou esse amor.
E pelo tempo nota-se que foi especial. Só mesmo o amor é capaz de não se apagar com o tempo.
Seja qual for esse modo de amar, vc deixa claro que foi algo da juventude, mas foi marcante.
Parabéns
Outra tua obra magnífica produzida em soneto.
Rico conteúdo de linguagem que define por si só uma criação literária.
Sentidos parabéns por te saber poeta já desde a adolescência.
Isto é um grande incentivo de gente mais idosa para os mais novos.
Obrigado por visitares o meu sinestesia-crepuscular.
Um abraço.
Obrigada pelas palavras que me deixas nos meus espaços. Mais dia menos dia, condenados a desaparecerem...beijinhos para ti.
É pela capacidade de amar que também se definem os humanos.
Essa tua gaveta de paixões é uma linda história de vida com muitas vidas por dentro.
Um grande abraço, Amigo.
Magnífica aquela expressão cheia de humor: “também, nesse tempo - gaiteiros escoceses à parte - apaixonava-me por tudo que mexesse e usasse saia, diga-se em abono da verdade”. Depois, texto, poema e sensibilidade é, como sempre, enorme, a dar prazer em visitar o blogue. Parabéns! Óptimo fim-de-semana.
E quem não teve destas "paixões proibidas" na juventude, caro Melenas (tirando os escoceses, evidentemente!)?
Saudações!
Da terra de Bocage ... só bons trovadores!!!
rouxinoldebernardim.blogspot.com
mas o meu amiga está a ficar famoso nestas coisas da net, só mesmo um trovador consegue isto, eu que o diga que sou uma das muitas fãs que por aqui ando e que nunca falto.
continua e bjs meus sofia
Querido amigo António, no quisiera ser prosaico después de leer tan lindo poema, pero ¿no has probado google? Yo he encontrado muchos fantasmas de mi pasado con sólo colocar su nombre. Tal vez encuentres a Teresinha, pero no te ilusiones: los fantasmas ya no son los mismos, y pertenecen a otros mundos.
Estoy buscando un cuaderno extraviado en que tengo un soneto escrito por mí cuando muy joven, que también es un acróstico. Cuando lo halle lo publicaré en mi espacio.
Un abrazo cordial
Vim fazer mais uma visita...e encantar-me..não só com a Teresinha
e sim com tudo o que tens aqui no teu " espaço!
Muito Belo!
Boa semana meu amigo e
Beijinhos da
Maria
Sabes António de facto aquelas épocas eram outras mas não vejo a sociedade de hoje, INFELIZMENTE, menos estratificada nem menos preconceituosa... o que vejo é muito preconceito disfarçado, e muita estratificação feita por motivos diferentes, é verdade que já não tem tanta importancia como tinha o nome de familia, mas tem importancia a roupa, as marcas, o carro, os locais que se frequenta, enfim...
Honestamente não sei qual o tipo de estratificação é pior.
Eu sempre tentei dar-me com vários tipos de meios e sempre tive a sorte de me integrar facilmente em todo o lado. Já ouvi coisas mais interessantes da boca da peixeira do que do jornalista ou do politico... mas a verdade é que se assim foi é porque tive a sorte de os escutar todos e mais sorte ainda de todos falarem comigo.
Já assisti em meios que criticam essa estratificação à sua pratica da forma mais temivel:
Pelos próprios que dizem defende-la.
Quantas vezes nos meios intelectuais vi nem sequer escutarem as opiniões dos considerados com nível mais baixo de intelectualidade.
Quantas vezes vi no meio politico de esquerda, não considerar as opiniões diversas, as dos considerados menos informados e que deveriam defender : O povo.
Como se defende quem não se ouve?
Pergunto eu?
Já vi em meios de direita fazer exactamente o mesmo.
Defender que o povo tem de ser educado e asclarecido e depois não dirigir sequer a palavra a quem não se considera informado e esclarecido.
Eu pergunto então como surgirá o esclarecimento?
Como surgirá a informação?
E o meio fechado do jornalismo com o seu dever de informar.
Informar quem?
Pomposamente informar os já informados ou os que já facilmente tem acesso á informação.
Agora meu amigo, critica social à parte o teu poema comoveu-me.
Deverá ter enchido de orgulho a Teresinha que não deixava de ser uma rapariga e nós as raparigas gostamos de trovas e trovadores.
E temos tranças douradas ou de outra cor na esperança que nelas um trovador repare e a elas uma trova faça.
Muito bonito António... gosto que da tua forma de aliar a beleza à análise. Como sabes eu tambem não consigo escrever apenas por ser bonito, embora ame a pura beleza das palavras...
Mas se mais que belas puderem ter um sentido um propósito... então assim escreverei.
Até breve amigo
Isabel
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