1.23.2007

EM BUSCA DE MIM


Mesmo descontando a "dor" literária,
Os tempos de juventude,
ao contrário do que se possa pensar,
são por vezes,
bem angustiantes e dolorosos.
No meu tempo, pelo menos, eram.
Julgo que hoje,
só a maneira de o dizer será diferente

* * *

EM BUSCA DE MIM
(Abyssus abyssum vocat)


O meu Eu, deixei-o abandonado
P’los caminhos da Dor e da Ilusão.
Sou um cego, sem guia nem bordão...
Um farrapo aos ventos atirado.

Todos os sonhos bons que hei sonhado
Queimaram-se na chama da Paixão...
E onde havia, outrora, um coração
Há um abismo sem fundo de pecado.

Entre o que fui e o que sou, a cada instante,
Há em mim uma luta fatigante
Que a minha alma gasta não suporta...

Na ânsia de encontrar-ME (vão intento!),
Meus dias vou gastando, num tormento,
A procurar por MIM, de porta em porta!...


17-1-1952

20 Comments:

Blogger Maria said...

Lindo poema!
Não sei bem e já o conhecia, mas tenho a sensação de que já o li nalgum sítio...
Não me é mesmo estranho de todo...

24 janeiro, 2007 04:48  
Blogger Licínia Quitério said...

Também acho. As dores existem em qualquer idade. Crescem e envelhecem connosco. Para melhor as suportar, dizemos que houve um tempo em que não não as tivemos.

Quanto ao soneto, só posso repetir-me: dominas bem a forma sem sacrificar a riqueza do conteúdo.
P.S. Até parece que sei muito disto :)

Beijinho.

24 janeiro, 2007 08:51  
Blogger António Melenas said...

Resposta ao comentário da Maria:
Sim, é muito provával que já o tenhas lido e isso só pode ter acontecido no item "Palavras de Ouro" do Site "Truca",do Luís Gaspar onde, entre centenas de poemas, colocou uns quatro ou cinco meus, entre os quais figura este. Nã me recordo se está exactamente igual. Pois frequentemente ao pegar num trabalho antigo lhe introduzo uma ou outra alteração. Um autor raramente dá por acabdo aquilo que faz, não é?

24 janeiro, 2007 09:33  
Blogger Maria Carvalho said...

Gostei António! Gostei muito desta busca de mim...muitos beijos.

24 janeiro, 2007 11:38  
Blogger MEHC said...

Pela grande qualidade deste soneto, e outros, vejo que o António já é excelente poeta desde pequenino :)
Eu já era gente, nessa data...mas ainda hoje não sei 'poetar' assim!
Grande abraço.

24 janeiro, 2007 15:40  
Blogger LurdesMartins said...

É o que eu digo, António! Faz muito bem de conta que é escritor!!!! Que tal pegar nesse material todo e procurar um editor, heim?!?! É que depois de ter feito um filho (no seu caso uma filha), de já ter plantado uma árvore (no seu caso, várias) e de ter escrito um livro, só falta mesmo ganhar o milhão (embora em Portugal, a vender livros, talvez não seja muito fácil...)!!!
Beijinhos

25 janeiro, 2007 10:39  
Blogger SCALA said...

Grande Poeta!

A SCALA já está na blogosfera. Visita-nos!

26 janeiro, 2007 10:03  
Anonymous Anónimo said...

gostei muitos destas tuas palavras quando ainda eras jovem, não que não o sejas agora, mas ali sim, sente-se ainda uma falta de maturidade (como seu sei do que falo...) que agora já a tens... gostei tb do teu comentario... a vida é mesmo assim vai-nos dando calos no sentir... bom fim de semana sofia

26 janeiro, 2007 11:51  
Blogger Cusco said...

"Não é poeta quem quer mas sim quem nasce poeta".
Tenho esta frase aqui atravessada porque não me lembro onde a li, onde a ouvi.
Vou deixar-ta aqui e trata dela, cuida dela..porque de certeza vais ser um bom dono para ela.
Até breve
SE DEUS QUISER

26 janeiro, 2007 12:07  
Blogger Paulo said...

Neste blogue encontrei um certa "anologia de mim"...
Afinal a "busca de mim", quiça! poder andar por aqui.
Vou voltar.
Abraço
Paulo

26 janeiro, 2007 17:57  
Anonymous Anónimo said...

Passei para ver os amigos, apreciar o blogue, sempre com bom-gosto e qualidade, factor que me leva a visitá-lo para deixar o desejo dum óptimo fim-de-semana, apesar deste frio que enregela, mas como diz o povo «mãos frias, coração quente».

26 janeiro, 2007 18:01  
Blogger Paulo said...

Obrigado pela visita.
Bom fim de semana.
Paulo

26 janeiro, 2007 19:15  
Blogger Moinante said...

Ora aqui está , mais um excelente blog , que eu desconhecia :
Bonitas palavras , e de uma força interior , que nos dá gosto ler , sentir , imaginar ...
Sim voltarei ...
Um óptimo fim de semana .

26 janeiro, 2007 21:23  
Blogger ROADRUNNER said...

Para além do livro de contos já falado, será preciso editar também um de poesia...
Saudações!

28 janeiro, 2007 00:08  
Blogger Ana Prado said...

Ah António,este texto cheira aos românticos, sabe a Garrett... e definitivamente, é um mestre no soneto!

um grande abraço, meu amigo.

28 janeiro, 2007 00:30  
Blogger Pérola said...

Bom, como vês não gastaste os dias todos, ficaram muitos e, neste momento, já encontraste o teu EU que perseguias. Também faço poemas (há muito menos tempo) mas são diferentes, têm apenas a emoção, esqueço as regras e as rimas.

29 janeiro, 2007 18:30  
Anonymous Anónimo said...

Caro amigo, parece que não é o único com pouco juízo que anda aqui nestas andanças. Eu faço-lhe companhia. Mas precisamos de nos sentir vivos, e mais jovens não é? Um abraço amigo.

30 janeiro, 2007 10:44  
Blogger Codinome Beija-Flor said...

Antonio,
Oenso eu que para sentimentos não há idade. Em 1952 eu nem existia, mas toda essa beleza e emoção é tão atual, tão maravilhosa que não se prendeu ao tempo, esta e esteve ligada pelo sentimento.
Parabéns
Abraços afetuosos

31 janeiro, 2007 03:09  
Blogger Menina Marota said...

"Em busca de mim..."
... não andamos todos?

Um belo poema de reflexão.
Gostei.

Um abraço ;)

01 fevereiro, 2007 15:54  
Blogger Furlan said...

Gostei muito, prezado Vate! Todos os grandes homens que conheço vivem à procura de si mesmos, numa eterna busca. Você me fez lembrar Paulo Bomfim, poeta brasileiro, que, entre outros, escreveu, em decassílabos heróicos, o
SONETO DOS MUITOS EUS

Um eu ficou no mar aprisionado
E deixou-me por pés as nadadeiras;
Outro ficou nas nuvens caminheiras,
Por isso bato os braços no ar parado.

Um eu partiu menino ensimesmado
E ofertou-me palavras verdadeiras,
Outro amou suas sombras companheiras,
Outro foi só, e um outro de cansado

Caminhou pelos becos. Há também
Aqueles que ficaram na poesia,
Nos bares, na rotina, o eu do bem,

Do mal, o herói, o trágico, o esquecido.
Eu gerado por mim na liturgia
De um todo para tantos dividido!

08 fevereiro, 2007 12:13  

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