EM BUSCA DE MIM
Mesmo descontando a "dor" literária,
Os tempos de juventude,
ao contrário do que se possa pensar,
são por vezes,
bem angustiantes e dolorosos.
No meu tempo, pelo menos, eram.
Julgo que hoje,
só a maneira de o dizer será diferente
EM BUSCA DE MIM
(Abyssus abyssum vocat)
O meu Eu, deixei-o abandonado
P’los caminhos da Dor e da Ilusão.
Sou um cego, sem guia nem bordão...
Um farrapo aos ventos atirado.
Queimaram-se na chama da Paixão...
E onde havia, outrora, um coração
Há um abismo sem fundo de pecado.
Que a minha alma gasta não suporta...
Meus dias vou gastando, num tormento,
A procurar por MIM, de porta em porta!...
17-1-1952
20 Comments:
Lindo poema!
Não sei bem e já o conhecia, mas tenho a sensação de que já o li nalgum sítio...
Não me é mesmo estranho de todo...
Também acho. As dores existem em qualquer idade. Crescem e envelhecem connosco. Para melhor as suportar, dizemos que houve um tempo em que não não as tivemos.
Quanto ao soneto, só posso repetir-me: dominas bem a forma sem sacrificar a riqueza do conteúdo.
P.S. Até parece que sei muito disto :)
Beijinho.
Resposta ao comentário da Maria:
Sim, é muito provával que já o tenhas lido e isso só pode ter acontecido no item "Palavras de Ouro" do Site "Truca",do Luís Gaspar onde, entre centenas de poemas, colocou uns quatro ou cinco meus, entre os quais figura este. Nã me recordo se está exactamente igual. Pois frequentemente ao pegar num trabalho antigo lhe introduzo uma ou outra alteração. Um autor raramente dá por acabdo aquilo que faz, não é?
Gostei António! Gostei muito desta busca de mim...muitos beijos.
Pela grande qualidade deste soneto, e outros, vejo que o António já é excelente poeta desde pequenino :)
Eu já era gente, nessa data...mas ainda hoje não sei 'poetar' assim!
Grande abraço.
É o que eu digo, António! Faz muito bem de conta que é escritor!!!! Que tal pegar nesse material todo e procurar um editor, heim?!?! É que depois de ter feito um filho (no seu caso uma filha), de já ter plantado uma árvore (no seu caso, várias) e de ter escrito um livro, só falta mesmo ganhar o milhão (embora em Portugal, a vender livros, talvez não seja muito fácil...)!!!
Beijinhos
Grande Poeta!
A SCALA já está na blogosfera. Visita-nos!
gostei muitos destas tuas palavras quando ainda eras jovem, não que não o sejas agora, mas ali sim, sente-se ainda uma falta de maturidade (como seu sei do que falo...) que agora já a tens... gostei tb do teu comentario... a vida é mesmo assim vai-nos dando calos no sentir... bom fim de semana sofia
"Não é poeta quem quer mas sim quem nasce poeta".
Tenho esta frase aqui atravessada porque não me lembro onde a li, onde a ouvi.
Vou deixar-ta aqui e trata dela, cuida dela..porque de certeza vais ser um bom dono para ela.
Até breve
SE DEUS QUISER
Neste blogue encontrei um certa "anologia de mim"...
Afinal a "busca de mim", quiça! poder andar por aqui.
Vou voltar.
Abraço
Paulo
Passei para ver os amigos, apreciar o blogue, sempre com bom-gosto e qualidade, factor que me leva a visitá-lo para deixar o desejo dum óptimo fim-de-semana, apesar deste frio que enregela, mas como diz o povo «mãos frias, coração quente».
Obrigado pela visita.
Bom fim de semana.
Paulo
Ora aqui está , mais um excelente blog , que eu desconhecia :
Bonitas palavras , e de uma força interior , que nos dá gosto ler , sentir , imaginar ...
Sim voltarei ...
Um óptimo fim de semana .
Para além do livro de contos já falado, será preciso editar também um de poesia...
Saudações!
Ah António,este texto cheira aos românticos, sabe a Garrett... e definitivamente, é um mestre no soneto!
um grande abraço, meu amigo.
Bom, como vês não gastaste os dias todos, ficaram muitos e, neste momento, já encontraste o teu EU que perseguias. Também faço poemas (há muito menos tempo) mas são diferentes, têm apenas a emoção, esqueço as regras e as rimas.
Caro amigo, parece que não é o único com pouco juízo que anda aqui nestas andanças. Eu faço-lhe companhia. Mas precisamos de nos sentir vivos, e mais jovens não é? Um abraço amigo.
Antonio,
Oenso eu que para sentimentos não há idade. Em 1952 eu nem existia, mas toda essa beleza e emoção é tão atual, tão maravilhosa que não se prendeu ao tempo, esta e esteve ligada pelo sentimento.
Parabéns
Abraços afetuosos
"Em busca de mim..."
... não andamos todos?
Um belo poema de reflexão.
Gostei.
Um abraço ;)
Gostei muito, prezado Vate! Todos os grandes homens que conheço vivem à procura de si mesmos, numa eterna busca. Você me fez lembrar Paulo Bomfim, poeta brasileiro, que, entre outros, escreveu, em decassílabos heróicos, o
SONETO DOS MUITOS EUS
Um eu ficou no mar aprisionado
E deixou-me por pés as nadadeiras;
Outro ficou nas nuvens caminheiras,
Por isso bato os braços no ar parado.
Um eu partiu menino ensimesmado
E ofertou-me palavras verdadeiras,
Outro amou suas sombras companheiras,
Outro foi só, e um outro de cansado
Caminhou pelos becos. Há também
Aqueles que ficaram na poesia,
Nos bares, na rotina, o eu do bem,
Do mal, o herói, o trágico, o esquecido.
Eu gerado por mim na liturgia
De um todo para tantos dividido!
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