2.05.2007

TEMPO DE TREVAS


Pormenor do Aljube. Porta de entrada.
Era a uma janela como estas, mas no 3º piso,
que eu acenava a minha mulher


Humilhação
também é tortura


Depois de vários dias passados nos “curros”,ou "gavetas",
a camarata para onde me levaram afigurou-se-me,
se não como um hotel de cinco estrelas, pelo menos como
um dormitório de uma colónia de férias.



Não sei se sabem o que eram aquilo a que no Aljube os presos designavam por curros – talvez pela parecença, no tamanho, com aquele pequeno compartimento, quase à medida do animal, de onde os touros são espicaçados e saem imediatamente para arena. É. pelo menos na escassez do espaço, na sua forma oblonga e no encurralamento dos presos, as celas do Aljube faziam lembrar esses tais curros.

Imaginem um longo corredor, paralelo e a todo o comprimento da grossa parede que dá para a rua da Sé. A escassa luz desse corredor que se fecha a sete chaves logo que nele se penetra é coada através de cinco ou seis janelas com grossas grades de ferro, revestidas com uma espessa e grossa rede de arame, para que da rua nada se veja do que atrás delas se passa.

Do lado direito desse corredor, uma dúzia de portas (penso que seja uma dúzia, pois nunca me deixaram percorre-lo até ao fim) cada uma delas com uma minúscula fresta, também gradeada, e um postigo que os guardas abrem e fecham por fora para que cada preso não veja quem passa no corredor. Atrás dessa porta e a cerca de um metro de distância, uma outra, com igual minúsculo fresta.
É imediatamente atrás desta segunda porta que se situa um estreito cubículo, escuríssimo como se depreende, com pouco mais de 3 metros de cumprimento - a medida exacta de dois catres (bailiques lhe chamavam os presos) – um a seguir ao outro, e uma largura pouco maior que a largura dos ditos.

A todo o cumprimento desse cubículo, a cerca de 70 centímetros acima dos catres, uma prancha com uns 30 centímetros de largura, a qual, depois de dobrada e levantada a cama, que a ela com um gancho se prendia passava a servir como uma espécie de mesa, onde se apoiava o prato de alumínio para comer ou escrever, sempre de pé, bem entendido.

Acontecia assim que, ou bem o preso tinha a cama descida e nela passava o dia deitado ou sentado - pois praticamente não se podia movimentar - ou bem que a levantava e ficava com a estreita nesga correspondente ao comprimento da sua para dar uns passinhos e desentorpecer as pernas., tendo o da cama do fundo de pedir ao companheiro que ocupava o catre da entrada para encolher as pernas, se este tivesse o seu descido e nele se encontrasse sentado com as pernas de fora. As magras e meio frias refeições, ou se tomavam sentados nas camas, ou de pé, como já referi, sobre a improvisada mesa, se a cama estivesse levantada.

Cada um dos presos dispunha de um balde para as necessidades menores. Para as maiores tinha de berrar pelo guarda de serviço, o qual quando se dignasse aparecer, conduzia o preso a um cagadouro de buraco no chão, situado num espaço aberto a meio da fila de celas, exposto aos olhares de quem passasse no corredor.

Eram estas as celas que os presos designavam por “curros” e outros por "gavetas" de triste e odiosa memória. Não admira pois que, como comecei por dizer, a camarata para onde fui transferido - não sem antes ter passado vários dias e noites em interrogatórios na chamada “tortura do sono” - constituía uma mudança qualitativa que não pude deixar de apreciar como um mal menor.

Era uma sala ampla, quadrada, com seis camas de um lado e outras tantas, encostadas à parede do lado oposto. Dispunha de uma retrete com porta que, não se podendo fechar por dentro, se podia ao menos encostar - o que constituía uma não despicienda vantagem em relação ao cagadouro dos “curros” - situada num pequeno compartimento antes de entrar na camarata e alguns lavatórios e duche num outro compartimento ao fundo sala., cuja limpeza, bem como de todas as instalações estava obviamente a cargo dos presos.

Entre as duas filas de camas havia um espaço, a todo o comprimento da sala, com talvez metro e meio de largo, que constituía, à falta de outro melhor, como que o nosso pátio de recreio.

Ali desentorpecíamos as pernas caminhando para trás e para a frente, como tontinhos, até nos cansarmos, ou até que algum mais stressado (ali os nervos estavam sempre à flor da pele) por não poder suportar a repetitiva cadência dos tacões ressoando no pavimento de cimento encarniçado da camarata e anexos, nos implorasse para pôr fim à frenética caminhada para lado nenhum.

Muitas vezes usávamos aquele mesmo espaço para disputar um animado torneio de chinquilho improvisado. Uma caixa de fósforos vazia, colocada ao alto no centro de um círculo desenhado a giz ou caliça da parede, servia de pino, enquanto as malhas eram igualmente caixas de fósforos cheias de miolo de pão amassado que se arremessavam de longe, a deslizar pelo pavimento, na tentativa de derrubar o pino ou, pelo memos marcar pontos, caso parasse dentro do círculo de giz. Também com o miolo de pão amassado havia um companheiro que moldava belíssimas peças de xadrez (as pretas obtinham-se mediante a junção de cinza de cigarros) com que alguns se entretinham. Quanto ao jogo de cartas, eu próprio, embora não jogasse, desenhei vários baralhos em cartões recortados da parte traseira dos maços de cigarros “Definitivos” ou “Provisórios”, marcas baratas então muito em voga.

Assim se tentava atenuar a passagem do tempo da melhor maneira possível, de forma a iludir a angústia constante, pela separação dos seres queridos, pela perda do emprego, pela sujeição inesperada e constante a mais interrogatórios e prováveis sevícias, pela incerteza quanto ao desfecho final dos processos.

Mas, de um forma geral, o ambiente era de grande solidariedade e espírito de entreajuda, pois idêntico era o motivo das nossas provações e semelhante o ideal que, com algumas nuances e graus de envolvimento, nos irmanava na luta contra o odioso regime de Salazar..

Para além dos passatempos que atrás referi, ocupava-se também boa parte do tempo em reuniões colectivas, onde cada um falava das suas experiências de vida e se fazia a análise da situação política (quem não percebesse de política, tinha ali a sua melhor escola) sendo outra parte destinada ao funcionamento de aulas ministradas por alguns dos companheiros habilitados em diversas matérias, tais como português, francês, Inglês, matemática, contabilidade, economia.

Havia lá de tudo. Não ao mesmo tempo, pois havia sempre gente a entrar e sair (a Pide não gostava que se criassem grandes laços entre os presos e por isso se empenhava em baralhar e dar de novo com constantes e quase sempre arbitrárias transferências de presos). Conheci naquela camarata três economistas, vários empregados de escritório, bancários e quadros técnicos, um escritor, vários operários corticeiros, químicos, um carpinteiro, ferroviários como eu, vários pescadores, camponeses e mesmo um pastor, analfabeto, de pelico e safões de pele de borrego, que nem ler sabia. Era o rescaldodas eleições do General Delgado à Presidência da República e as prisões regurgitavam de presos políticos naquele princípio de ano de 1959. O Ditador tinha ficado mesmo acagaçado…

Quanto a mim, ainda praticamente em lua de mel prolongada e com a minha mulher grávida, um dos meus passatempos era, por detrás das grossas grades e da rede de arame que se lhes sobrepunha, passar horas esquecidas a espreitar a rua, na esperança de a ver surgir, no passeio fronteiro e muito devagar descer a rua, encostada às paredes da Sé, de ventre empinado e maior a cada dia que passava, procurando com os olhos doces que as grávidas têm, a janela do terceiro andar onde, sem me ver, descortinava um vulto que sabia ser o meu, acenando e gritando o seu nome. Ela olhava, sorria, e passado um ressaltos da muralha que a ocultava dos olhares do GNR postado à porta da prisão, parava, acenava mais abertamente e sorrindo, sorrindo sempre, continuava a descer a rua, até a perder de vista, ao fundo, na dobra da rua.

Todos os dias, de manhã antes de entrar no emprego e à tarde depois de sair, a visita se repetia e com tal regularidade que todos os outros companheiros enchiam as outras duas janelas acenando também, e beneficiando indirectamente daquele sorriso que lhes suavizava as neuras e os medos que a todos corroía.

O nosso ritmo de vida poderia até considerar-se relativamente satisfatório, não fora o doloroso sentimento da perda de liberdade e o sobressalto permanente de vir a ser buscado a qualquer hora, para os terríveis interrogatórios no antro da Pide – a sinistra sede da Rua António Maria Cardoso.

Era quase sempre a meio da noite que vinham. Primeiro ouvia-se o som característico do motor diesel da carrinha de transportes de presos, no esforço de subir a rampa da Sé. Se o som continuava e aos poucos, ao longe, se extinguia, os corações sossegavam. Porém se o motor parava em frente da prisão, se ouvia um bater das portas do carro a fecharem-se, de novo se alvoroçavam. Era certo e sabido que pouco depois se ouviria, sinistro e estridente, o toque do telefone colocado ao cimo das escadas do nosso piso. Era da portaria. Era a Pide que chegava. Ai, os corações mais aceleravam. Ouvia-se o guarda lá fora: Sim, está bem, ele desce já. Logo de seguida, o ranger de sucessivas voltas da chave no ferrolho da gossa porta de entrada, esta a escancarar-se e o guarda prisional quase sempre com um sorriso bem sacaninha: Senhor Fulano, prepare-se para ir à polícia.

Pálido, lá se levantava o indigitado, lá se vestia atabalhoadamente, e saia fazendo um discreto sinal de despedida aos companheiros, estremunhados e soerguidos nos respectivos leitos. Claro que ninguém mais pregava olho na camarata. Todos sabiam que, muito possivelmente, durante vários dias não voltariam a ver o companheiro, submetido à sanha e aos caprichos dos implacáveis inquisidores.

Naquela noite foi o Manuel Lemos, meu vizinho de cama.
O Manel era um jovem operário corticeiro, algarvio, casado e com filhos. Era um latagão, bondoso e simples como são quase sempre as pessoas grandes. Algo ingénuo até. Recordo-me de uma vez, já deitado, ter desatado a rir a bandeiras despregadas, quando me viu vestir muito compenetradamente o pijama de flanela que então usava. Qual é a graça? Perguntei. É que, respondeu, ainda sem poder conter o riso, gostava de saber para que raio vestes esse fato completo, casaco e calças, para dormir, e ainda para mais com bolsos e tudo. Será para guardares a merenda se te der a fome de noite?

Acabei por rir também com ele. É claro que o Manel, que dormia de cuecas e camisola, nunca tinha visto aquela estranha e ridícula fatiota de dormir.

Passaram-se vários dias e várias noites e o Manel sem aparecer.
E nós, olhando a sua cama vazia e sofrendo com as mais que certas sevícias a que o nosso companheiro deveria estar a ser sujeito, designadamente a temível tortura do sono que a maior parte de nós já tinha sofrido e sabia avaliar quanto custava. Muito mais que a porrada, em meu entender.

No meu caso, lembro-me de, a meio da noite, ter entrado no compartimento onde um outro Pide me moía o juízo para confessar não sei o quê, o Inspector R., que eu sabia ser useiro e vezeiro a espancar pessoalmente os presos. Mal o vi entrar, com grande estardalhaço, enorme, gingão, de lacinho, bigodinho à César Romero, e ar de quem vinha “bem bebido” (devia vir de uma festa de carnaval, pois era num dos dias dessa quadra) encostei-me à parede, em ar de defesa, para melhor aguentar os golpes que viessem. Pois ele, veio direito a mim, pôs-me a mão no ombro, encostou o rosto avermelhado e a tresandar a vinho, junto ao meu – tão juntinho que receei mesmo que me fosse beijar e segredou-me ao ouvido: Vê-se mesmo que o senhor Gouveia está de peito feito para que lhe dê um enxerto de porrada. Pois não lhe vou dar esse prazer, ouviu? Não lhe vou dar esse prazer! E não deu mesmo, o sacana.

Lá continuei de pé, sem dormir - sob a ameaça constante que dali só sairia para o Tribunal Plenário, para o Julio de Matos ou para o Alto de São João - até ver os nós da madeira transformarem-se em baratas que começaram a corre em todas as direcções e subir por mim a cima.

Quando voltou, o Manel entrou silencioso e deixou-se cair em cima da cama, de rosto voltado para a parede.

Ninguém se mexeu do seu lugar. Quando um companheiro vinha dos interrogatórios, todos respeitavam o seu silêncio, sabendo-se que o seu estado de espírito era profundamente deprimente em tais ocasiões.

Ouvi-o soluçar. Como companheiro mais próximo sentei-me na sua cama, pus-lhe a mão no ombro e tentei animá-lo: Então amigo, o que foi? Desabafa! Ele virou-se, os olhos vermelhos e marejados de lágrimas. Abraçou-se a mim e repetidamente disse apenas: Bateram-me, os cabrões, bateram-me na cara, na cara. Uns merdas que eu podia desfazer com as minhas mãos. E erguia diante dos meus olhos umas mãos enormes e calejadas, que abria e fechava num gesto de esganar o que lhe aparecesse pela frente.

Os sacanas sabiam o que a cada um doía mais. Àqueles a quem podiam sacar alguma informação, porque dela eventualmente dispunham, usavam preferencialmente a tortura do sono até a extorquirem; aos mais impreparados politicamente (alguns nem chegavam a saber porque estavam presos), a violência física era mais utilizada, destinando-se sobretudo a amedrontá-los, de forma a afastá-los de eventuais participações em futuras actividades políticas; em relação a outros usavam a chantagem psicológica: a mãe velhinha, a falta que faziam à família, os filhos para criar, mulher que, enquanto ele estava ali armado em herói o corneava cá fora…Tudo servia para desmoralizar o preso.

Pois àquele bom gigante, homem rude e simples, o não dormir, e os interrogatórios cerrados afectavam muito menos do que ser desfeiteado na sua qualidade de macho corajoso por um bando de cobardes investidos de uma legalidade usurpada e criminosa.

Naquele momento, o meu ódio pelo sacripanta que, com ares de santinho e falinhas mansas espezinhava e, por mãos de sicários a expensas do Orçamento de Estado, torturava e humilhava o seu povo a partir da seu santuário de São Bento, atingiu um intensidade só comparável à imensa piedade pelo meu companheiro, de alma ferida e dignidade aviltada, a cujo choro, silencioso, me associei.


Nota: O apelido deste companheiro, do qual nunca mais tive notícias, começa efectivamente por L, mas não é Lemos. Evito assim ferir naturais susceptibilidades

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Fotos baixads , data venia , DAQUI

23 Comments:

Blogger Maria Carvalho said...

Comovi-me com este teu relato. Um documento para que a memória não se perca, para que a História se baseie em factos verídicos. Obrigada por te ter lido. Beijinhos.

06 fevereiro, 2007 09:51  
Anonymous Anónimo said...

Bom dia Antonio, sãos etsas historias de uma vida vivida que nos dá alento e sobretudo conhecimento, pois hoje em dia, nada disto de sabe...parabéns pela tua coragem. sofia

06 fevereiro, 2007 10:28  
Blogger Matvi. said...

António, tu relato me aprieta el pecho. ¡Qué semejantes son las historias de nuestros países! ¡Cuán necesario es recordar! La verdad no debe olvidarse. Cada uno podrá perdonar o no, pero siempre después de saber la verdad. ¡Para que nunca más!
Un abrazo fraterno
Matías

06 fevereiro, 2007 12:26  
Blogger Cusco said...

Um texto muito parecido com as descrições vividas no livro "A Estrela de Seis Pontas".
Um grande abraço..

Até breve
SE DEUS QUISER

06 fevereiro, 2007 15:28  
Blogger @Memorex said...

Não imagine como é prazeiroso escutar-te através de palavras libertas, vividas com tal intensidade de quem desabrochou entre os ares da fraternidade e companheirismo.

Simplesmente maravilhada.
Um beijo caro sábio.

Memorex.

06 fevereiro, 2007 18:13  
Blogger LurdesMartins said...

E isto não foi um filme, não é António!?!?
E ainda há que diga que no tempo de Salazar é que era bom...

Beijinhos (de admiração e respeito)

06 fevereiro, 2007 18:53  
Blogger Maria said...

António

Eu gostaria que este teu relato fosse uma estória de ficção.
Eu gostaria que este teu relato fosse um "exercício de estilo" para um filme de ficção científica.
Eu gostaria que este teu relato não existisse.
Infelizmente, tudo isto foi verdade.
Infelizmente, "trabalha-se" para apagar esta memória.
Infelizmente, a História demora a fazer-se, e os jovens de hoje, se confrontados com o que escreves, pensam tratar-se de um guião para um filme.
Fiquei de coração apertado. Porque recuei 33 anos.
Obrigada por este texto.
Deixo-te um beijo, Camarada!

07 fevereiro, 2007 03:04  
Blogger MEHC said...

Obrigada, António. Pela memória tão viva aqui partilhada. Sei quanto é tudo tão exacto e verdadeiro, tão sentido, tão intensamente vivido e guardado.Que fique assim registado. E quem já nasceu noutra época, dê valor às gerações que lutaram para que a liberdade fosse conquistada.
Um grande abraço.

07 fevereiro, 2007 15:24  
Blogger Pepe Luigi said...

Caro António,
Por sermos contemporâneos, li o teu vivo relato com ganas de raiva.
Se calhar aos jovens do actual tempo, por desconhecerem, julgam que os anos idos são apenas história de contar!

Fazes favor de continuar
prosseguindo nestas andanças
e a ter muitos anos
e pouco juízo
sinal de vermos as tuas mudanças!

Um abraço
José Luís.

07 fevereiro, 2007 15:26  
Blogger Codinome Beija-Flor said...

António,
Seu blog é uma lição de vida constante.
Tomei a liberdade e apresentei seu blog lá no meu cantinho e eu sua homenagem escolhi a figura de duas belas mulheres, uma vez que você sugeriu a idéia num comentário que fez no blog da Emilia.
Um abraço

07 fevereiro, 2007 17:53  
Blogger david santos said...

Olá!
Obrigado por este texto tão esclarecedor.
Quanto à humilhação ser tortura, mas que tortura!
Parabéns.

08 fevereiro, 2007 20:04  
Blogger Isabel said...

Lerte provoca-me alem de admiração um imenso orgulho nas pessoas que como tu sofreram, lutaram, caminharam, seguiram em frente e com uma lágrima e um sorriso ainda partilham com os outros a vida sofrida, amada e vivida...
Gosto muito da forma como viveste até as humilhações... tudo em ti revela o grande homem que és.

Obrigada por tudo.

Isabel

08 fevereiro, 2007 21:06  
Anonymous Anónimo said...

Bem... estou impressionada! Blogues como este são raros, contando esta história de vida de um modo tão apaixonante, tão bem escrito! Foi realmente uma época terrível e creio que tem influencia no modo como escreve, e todo este material em que se juntam as sílabas desta história são uma herança sagrada a transmitir às gerações. Felizmente que o tempo lava e desenvolve, ordena e continua. E destas conspirações no silêncio e na dor, nestas pequenas memórias frias não permanece nada além do que foi escrito com sangue poara ser escutado com sangue. Um bem haja e obrigada pela partilha. Abraço


(PS: aceito sugestões para que possa ler o meu blog com mais facilidade, já coloquei o vermelho mais escuro mas não sei se se refere às cores.. :) )

08 fevereiro, 2007 21:26  
Blogger Elsa Sequeira said...

Olá António!!

mas que partilha!!
Gosto de ler-te e gosto acima de tudo dessa alma linda, linda, linda!!!
Parabéns!!! Continua!!!


:))

09 fevereiro, 2007 00:11  
Anonymous Anónimo said...

..e se fôra eu,antónio
nessa rua sistemáticamente a passar,
levar-te-ía na mão
bem apertadinho,juntinho ao coração,este simples poema
sem dilema/só ternura e admiração:
Enrosco-me toda na palma da tua mão
feto recente,dócil,terno
em teu candido ventre.
caibo inteirinha em tuas palmas
doce romaria caprichada
por veias de álamos circundadas.
na palma da tua mão,
nesse riacho de choupos
ladeado de flores campestres
doce romaria caprichada
onde sou perdida,
onde sou achada.

09 fevereiro, 2007 09:26  
Anonymous Anónimo said...

António, por tudo o que li hoje, um beijo enorme!
Com muito respeito, este teu texto é um pedaço de história para ser muito, muito, bem guardado!
Apetecia-me dar-te um abraço apertado!
Obrigada, meu Amigo!
Sublime relato!

Cris

10 fevereiro, 2007 01:07  
Blogger Manuel Veiga said...

comovente o teu relato. obrigado, meu Amigo!

para que o "clamor da liberdade" não mais se apague. fazes bem lembrar-(nos) o que foi a repressão salazarista.

abraços

10 fevereiro, 2007 13:55  
Anonymous Anónimo said...

Caro António: como cidadão consciente e activo, o seu texto sensibilizou-se imenso, testemunho duma época de trevas que alguns teimam em fingir que nunca sucedeu.

O esquecimento, a ignóbil ignorância e revivalismo saudosista é tão inacreditável que 30 anos depois de Abril, a turba vai certamente eleger o Botas (vulgo António Oliveira Salazar) como o maior português de todos os tempos, para náusea minha.

Foi o Aljubre, Peniche, Caxias, Tarrafal (Cabo Verde), campo de S. Nicolau (Angola), a PIDE, a Legião, A Censura e toda uma panóplia de mecanismos de repressão.

Por isso, hoje, resistir é preciso. Bem-haja!

11 fevereiro, 2007 06:12  
Blogger Menina Marota said...

Ler-te, eu que cresci fora de todo e qualquer tipo de referências ao que se passava em Portugal, ao que o Povo sofria, às perseguições, à Pide, à fome e ao abandono a que o Povo esteve votado durante tantos anos, uma vez que, em casa de meus Pais, era tabu falar-se de Portugal, por motivos que só meus Pais sabiam e mais tarde, muito mais tarde, tive conhecimento deles, é um privilégio e um grande honra, ter acesso a estas memórias.
Com o crescimento veio também para mim, a descoberta de muita coisa e a revolta. Não por me saber enganada, mas sim, porque viver na ignorância, é o pior dos dramas.
São factos como os que relatas, que não devem ser esquecidos e devem permanecer na memória, não só de quem os viveu, mas também de todos aqueles que não o tendo vivido, devem perceber todo um passado feito de lágrimas e dor, que nos conduziu à liberdade de podermos ler tudo aquilo que aqui reproduziste.
Não condeno os meus Pais, por me manterem na ignorância durante muitos anos, do que se passava em Portugal. Fizeram-no pelo grande amor, que como filha única me tinham.
O teu testemunho é aquilo que todos nós precisamos, (os que não vivemos, não sofremos… a dor, a humilhação, a perda, como tu e outros sofreram) para vivermos em alerta, para que nada possa voltar a ser como dantes.
Grata pela partilha e pela imensidão das tuas palavras.

Um abraço carinhoso e um bem haja para a Mulher que te acompanhou, com o seu lindo sorriso ;)

12 fevereiro, 2007 14:54  
Blogger ROADRUNNER said...

Excelente texto, pleno de sensibilidade e recordações, tão bem retratadas. Mais do que tudo, uma lição de história, história negra da nossa memória recente. Vale sempre a pena escrever estas palavras, para que as gerações presentes e vindouras tomem connsciência plena de que para actualmente poderem por exemplo criar blogs e manifestar o seu direito de expressão, houve em tempos pessoas que lutaram e sofreram na pele para que isso hoje fosse possível. Mais do que tudo, penso que este texto é uma homenagem sentida a todos aqueles que lutaram pela liberdade. Um bem haja a todos eles e que a sua memória seja para sempre preservada.
Saudações!

12 fevereiro, 2007 22:18  
Blogger @Memorex said...

Carissimo António

Obrigada pela força e incentivo, é pecisamente esta capacidade de enfrentar o desconhecido e de aventurar-me nele, é tão aliciante!

Parece estranho, de facto bizarro porque não sinto qualquer medo assombroso, um formigueiro na barriga álias o coração a saltar aos pulos.

Nada disso verifica em mim, apenas transpira seneridade.

Quanto á tua história, eu conheço-a intimamente tive o privilégio de escutar histórias verídicas atravês do meu avó e do meu pai, afinal esteve bem patente quando a revolução começou com os seus 14 anos.

Um beijo cintilante de quem gosta de ler-te.

Memorex

13 fevereiro, 2007 10:15  
Blogger Licínia Quitério said...

"Há que resistir!", dizia o meu amigo que te apresentei.
Tu és da mesma cepa.
Conta, conta estas histórias da tua vida, da vida do nosso povo.
Testemunhos preciosíssimos e tristemente necessários quando novos abismos nos circundam.

Um forte abraço.

13 fevereiro, 2007 13:09  
Blogger Manuel Veiga said...

um abraço. boa semana...

13 fevereiro, 2007 18:02  

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