11.23.2006

O POEMA DE AMOR


O Poema de amor, Amor,
que em breve te farei,
não há-de ser senão
o acto de te amar.

Não vou precisar lápis nem papel
pois é sobre o teu corpo, em tua pele,
que ao vivo meu poema vou criar.
Para quê de palavras o gaguejo
quando o corpo nos arde
de desejo,
e mais do que dizer
o quer gritar ?

Desse poema, as palavras
serão beijos.
E as frases os abraços ...
E a escrita no teu corpo
serão traços,
dedos, dentes,
bocas, braços
que em ti imprimirei.

Sujeitos da oração
seremos dois !
E objectos seremos igualmente.
E no conjugar febril
da mesma acção,
o verbo não terá senão presente.

Exclamações (!) serão gemidos,
Suspiros e ais as reticências...
E não haverá paz nem complacências
até à morte plena dos sentidos.
Pontos, só haverá ponto final,

a fim de que o poema,
Amada minha,
comece nova estrofe,
em nova linha.
Com beijos e abraços...
Tal e qual

-----

PS. Agora imaginem só,

fazer a análise sintáctica deste poema
de acordo com a terminologia do TLEBS!!!…
Lá ia todo o poema p’ró galheiro!

Ouça também este poema, na voz de Luís Gaspar
no programa "Lugar aos Outros nº 28,
AQUI

Foto: nu de Modigliani retirada, data venia, daqui

12 Comments:

Blogger Ana Prado said...

Luís, mais um texto excelente. Quem dera saber esta simplicidade de dizer as coisas.

Gostei muito. Mais logo, com mais tempo, irei ouvi-lo pelo Luís Gaspar.

Quanto à TLEBS, infelizmente tenho de trabalhar com ela, nem sabe como entendo o seu comentário.

Até breve, poeta:)

23 novembro, 2006 08:05  
Blogger Maria Carvalho said...

Lindíssimo poema mesmo!! Dificilmente encontro outro adjectivo! E acho-o cheio de doçura. Quanto gostaria de ser alguma vez o mote de alguém para uma beleza de Poema assim!! Beijinhos para ti.

23 novembro, 2006 10:13  
Blogger António Melenas said...

Quem sabe, Paula, se quando fores grande... Gostei que tivesses gostado
bjs.

23 novembro, 2006 13:40  
Blogger Licínia Quitério said...

Não é só o rigor da palavra, é o arrebatamento dos sentidos. É a dificuldade do que parece simples.
Já ouvi o Luís. E nele a tua voz.

Um grande abraço, Amigo.

24 novembro, 2006 15:05  
Blogger Maria said...

Este blog é uma surpresa para mim.
António, já tinhas comentado no meu por causa de um determinado livro de que ambos gostamos, mas não tinha tido ainda tempo de passar por aqui a sério.
é um blog para ver duramte o fim de semana.
Obrigada por teres postado sobre o Gedeão no teu outro blog
Abraço

24 novembro, 2006 22:47  
Blogger Isabel said...

Vir aqui é vir encher ainda mais a minha alma já transbordante.
O seu poema é sublime.
A ligação do acto de amar às figuras gramáticais não é nova mas adequire um novo sentido uma nova riqueza escrita por si.
Belo esse poema escrito no corpo desejado.


Lá para os meus lados um texto do músico Vitor Rua que sei vai gostar.
Passe por lá.

Até breve.

Isabel

Bem haja quem assim escreve.

26 novembro, 2006 20:41  
Blogger Isabel said...

António venho de novo chama-lo.
Mario Cesariny, poeta como o António partiu. Seguiu viagem.
Lá vai, ele e a morte como dois amigos de mãos dadas. Ele vai mas deixou-se ficar inteiro para nos eternamente.
Urge acenar-lhe.
Adeus Mário, até sempre.

A si antónio até já.

Isabel

27 novembro, 2006 18:17  
Blogger @Memorex said...

António,

Queria agradecer-te pelas tuas amavéis palavras escritas no meu mundo silencioso.

Por vezes a maturidade de escrita provém nas experiências de vida e todos possuímos uma idade secreta, não a idade real mas a idade puramente intemporal da operação psíquica.

Grata pelo teu elogio imperativo, só me faz continuar a escrever como nunca.

Que tenha um bonito dia,
Carinhosamente Memorex.

P.S-» Adorei imensamente o seu poema, imparavél!

27 novembro, 2006 22:13  
Blogger Menina Marota said...

"...Tal e qual"

Um verdadeiro poema de Amor!
Já aqui tinha estado e também já tinha comentado, mas não sei que se passou, o comentário foi ao ar...
E ouvi o Poema na belíssima voz do Luís Gaspar, que o torna ainda mais especial.

Um poema de Amor...
Mas quem não gosta de receber um Poema de Amor,
tal como as cartas de amor, que nunca são ridículas
como diz o Poeta
um poema
transcreve a alma
o fervor
do nosso peito
e nos revela
sentimentos
para lá
da imaginação…

Um Poema de Amor…
Mas quem não gosta de
Um Poema de Amor?



(No outro comentário tinha ficado melhor, agora não consegui reproduzir...)

Um abraço e boa semana ;)

28 novembro, 2006 12:15  
Blogger Manuel Veiga said...

olá, "Senhor" Poeta! gostei muito de ler. e de ouvir pela voz bem timbrada de Luis Gaspar.

TLEBS, pois... É o que está a dar: políticos de pacotilha, comida de plástico e lingua de trapos...

abraços

29 novembro, 2006 14:24  
Anonymous Anónimo said...

Vim aqui dar via Poesia Portuguesa, deliciei-me pela forma poética nas "mulheres da minha vida" e não menos com este. Magnifica forma de escrever poesia. Talvez com o tempo e insistência ainda venha a escrever poesia como "tu" sem me incomodar com a obscuridade existente nas TLEBS (Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário); mudam-se os tempos, mudam-se as vontades de saber amar
com verdade...

Um abraço

29 novembro, 2006 18:51  
Blogger Amita said...

Que beleza de poema, amigo António!
Já aqui tinha passado, lido e, por uma interrupção de momento, não o pude comentar. Confesso que ultimamente as "interrupções" são constantes pelo que as palavras não surgem e pairam pelo espaço silenciado. Este poema tem uma construção musical magnífica e uma ternura constante; é um prazer ler e reler e reler e ouvi-lo pela voz bem timbrada do Luís. Um bjinho grande e um doce sorriso

Voltarei breve a este espaço de encantos.

05 dezembro, 2006 11:51  

Enviar um comentário

<< Home