QUIMERA
Confesso que não estou ainda bem refeito da morte da minha Diana, cujas memórias vos dei a conhecer . Na verdade, tendo-a criado, ganhei-lhe tanta amizade como se verdadeira fora. Podia tê-la poupado? Podia mas, com a idade que tinha, o pouco tempo que pudesse ter-lhe concedido seria preenchido por sucessivas moléstias e desnecessários sofrimentos, em vez do fim suave e feliz com que terminou os seus dias. Tomáramos nós, os de duas patas , merecer do nosso criador, se ele existe, a mesma atenção em relação à oportunidade da nossa hora derradeira!
Jaz agora a Diana - acabo de lá passar – num recanto tranquilo da quinta onde passou praticamente todo o tempo da sua existência . Só um pequeno montículo onde a chuva dos últimos dias fez já nascer uma pequena camada de erva tenra , denuncia o lugar da sua campa. No ramo de uma acácia, que sobre ela estende os seus ramos, um casal de melros anuncia em alegres gorjeios a Primavera que se aproxima.
E agora volto ao meu baú de velharias de onde desencanto mais um soneto – forma poética preferida para através dela dar largas aos meus juvenis anseios. Por ele se vê que o meu pendor de cavaleiro andante se mantém, só que agora menos contemplativo, mais empreendedor, esquecida que estava a Teresinha…
Não sei se é amor, se adoração
O que por ti sinto, dona do meu fado.
Sei só que ao ver-te fico transportado
Aos longínquos reinos da ficção !
Vejo-te num palácio acastelado
Incauta prisioneira de um vilão ;
E eu um cavaleiro enamorado
- O amor por divisa, a fé por galardão -
Guiado pela tua formosura,
A arder na pura chama do Ideal,
Afronto os perigos todos com bravura
E julgo-me um herói medieval,
Lutando por uma virgem terna e pura
De iluminura antiga de missal
1949
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DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Veja e ouça
http://www.camera1-fotografia.com.br/dia_da_mulher/dia_mulher.htma
Recebi agora, 8 de Março de 2007: 18.00, de um amigo de São Paulo
Samuel Iavelverg , fotógrafo
23 Comments:
Também eu se me partiu o coração quando há um mês tive de mandar abater o meu gato por estar já em sofrimento, e senti tão profundamente a sua perda, que ainda hoje quando olho o meu novo gato, por vezes, não consigo reter uma ligeira humidade que me invade os olhos.
Quanto ao soneto acho-o, sinceramente, muito belo.
Já tenho nova história no meu blog, quando quiseres...
Bjs e continua a escrever estas lindas e sensíveis histórias e retirar os teus poemas do teu bau dos sentires.
Bjs
TD
Foi com emoção e uma lágrima a rolar que li...que a Diana já partiu!
O relato que fez dela...emocionou-me...
E o facto de saber que já não a tem...maior dor senti!
Também tenho o Óscar...( meu cãozinho)...e nem quero pensar o dia que ficarei sem ele!
O soneto, tirado do baú das recordações...é lindo!!
Um bem haja por o partilhar connosco!
Beijinhos meu amigo....e até breve!
Maria
Adoráveis as tuas poesias, encantadoras as tuas prosas António! É um prazer ler-te. Obrigada pelas palavras que me deixaste nos meus dois espaços, as quais sempre me enternecem. Muitos beijos meus.
aís os nossos amigos de 4 patas, são mesmo muito especiais e quando se vão é que se sente uma dor... animo amigo antonio bjs de mim sofia
Onde estão meus olhos rasos
não sei lá onde os guardei
tinham tantas pérolas incoerentes
tantos limos, tantas frentes
onde os guardo, a quem os dei
não sei..não sei..,
perdi-lhes o rasto
em noite de çéu aberto
brincavam com as paredes do meu quarto,
entrelaçavam luz, estrelas, fogo fáctuo
entre pedras, musgo e mato.
onde estão os olhos tais
que fugiam c´os pardais?
Não que os queira em minha fronte,
novos olhos estão a monte
e não são olhos; são cristais.
Esquecido que estavas da Teresinha, que nome tinha a dona do teu fado? Acho que nenhum por ora.. Tu, cavaleiro e eterno trovador aguardavas a vinda de uma dama, que virias a adorar e a ser adorado.
Quanto à Diana, que nem eu esqueço já, de tão terna fora a sua história, teve a sua hora, como têm todos independentemente do número de patas. Tudo faz parte do processo natural da Criação, até as memórias e a poesia.
Beijos
Comoveu-me a historia de Diana e o soneto Quimera...
Deixo-te aqui um beijo!
Meu querido amigo,
Ao ler o seu comentário acabadinho de chegar ao meu " espaço"...confesso que a minha admiração por si ainda aumentou mais!
Grande romancista/poeta...!
A história da Diana...a que eu já sentia um enorme carinho e sofri com a sua perda...não passou de pura ficção!
Só me resta...fazer-lhe uma vénia... do Grande escritor que é... que passou da ficção para a realidade!
Sinto uma certa vaidade...é ser sua leitora!
Beijinhos da
Maria
Olá!
Desculpa, querido, amigo! Eu não aguento!
Desculpa.
Caro António,
Eu que também adoro animais, nomeadamente cães, sei bem o quanto estás a passar. Todos nós temos que nos lembrar que a vida é uma passagem com princípio, meio e fim. Compreendendo esta natureza aproveita para te lembrares que na parte do meio homem e animal preencheram a razão da existência.
Pois é! Mais um bonito poema com a chancela de António Melenas.
Um Abraço Amigo.
Queridos Amigos e Amigas que visitaram até agora este "post" e o anterior. Começo a aperceber-me, surpreso, que muitos de vós (senão todos) interpretaram o texto sobre a Diana, como tratando-se da história romanceada de um cão real, quando na verdade é apenas uma criação literária. Talvez tenha exagerado na dose de realismo, mas nunca pensei que a ponto de criar esse equívoco.
Aqui reponho a verdade com pedido de desculpa aos que se emocionaram por causa de um canídeo que nunca. existiu. A verdade porém, é que eu próprio acabei por ser contaminado por essa emoção. É a força da literatura!
Tu soneto muestra que eres un Quixote.
Un abrazo, amigo
Ficcionista e poeta. Assim confundes sonho e realidade. Mas não TE confundes. Invejável lucidez.
Um beijinho,Amigo.
Olá amigo António. Obrigado pelo simpático comentário na minha humilde casota.
Em relação à Diana, assim que li o texto anterior fiquei com a sensação de que o que estava lá escrito era algo mais do que a história da grande Diana. Daí o meu comentário ao texto ter sido feito da forma como foi. Achei que aquilo era um recado, uma reflexão de vida, era um pouco a nossa vida. A minha, a sua…a de todos.
Um texto muito belo, muito bem escrito e sabe continuo a pensar que o texto TEMPO DE TREVAS é um dos melhores que tenho lido nesta imensa blogosfera.
Um abraço para si e um beijo para as Mulheres da sua vida!
Até breve
SE DEUS QUISER
Beijinhos e Bom fim de semana
Cris
Tão novinho e já a escrever assim...
Devias ser "fresco" António...
Bom fim de semana
Um abraço
Vim de novo! Teria tido dúvidas que eu tivesse chegado realmente aqui??
Vim e li tudo...da primeira vez...desta foi mesmo só para lhe poder responder.
Cada um escreve o que sente e só lê quem quer...eu quis...apesar de achar que duvida disso ou será que estou enganada e apenas duvida das minhas capacidades de comentar no sítio certo?
"Vous ne me connaissez pas encore. Vous me faites grand tort de juger de moi par les autres." Molière
Um abraço e grandes inspirações líricas
Amigo António Melenas
Boa noite. O dia esteve fantástico de Sol e Luz e Temperatura amena.
Afinal o não ter conseguido deixar aqui um comentário, há dias, foi azelhice minha.
Esqueço-me que o IE nos coloca algumas janelas na barra de navegação inferior, "escondendo-as" dos distraídos como eu.
Será que já ando a precisar de reforma?!
Um abraço amigo
António
confesso-me um pouco apaixonado pela "tua" Diana. espero que volte a este mundo. em carne e osso, quer dizer, reviva nos teus textos...
o soneto é bem digno de Petrarca. pena a menina não se chamar Beatriz...
abraços
Não haja dúvida, caro António: quem escreve prosa e poesia deste tom e valia, tem uma profunda sensibilidade e qualidade inegável, que a mim somente me resta apreciar com prazer e estima. Venham de lá mais velharias destas, para nosso deleite. Parabéns e óptima semana.
António, afinal parece que ainda há por aí uns princípes... aqui vislumbrei um... e montado no seu cavalo branco, como manda o figurino!
Bonito poema!!!
Gosto muito de ler o que escreve, a sério!
Beijinhos
António, senão tivesse lido o teu esclarecimento sobre o texto que me emocionou, dificilmente conseguiria agora comentar, dado que tantas lembranças me trouxe.
As tuas palavras em prosa e em poesia são grandes e muito me encantam.
Com muito carinho te abraço.
Um bjo
António, meu amiguinhos
este soneto é tocante, senti a melodia e encantei-me
vi-me num castelo...
e era um herói...
sobre a Diana desde o principio que soube ser um momento por ti descrito, uma criação tua, muito bem narrada
abraço-te com muita ternura e beijinhos muitos para ti
lena
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