3.06.2007

QUIMERA

Confesso que não estou ainda bem refeito da morte da minha Diana, cujas memórias vos dei a conhecer . Na verdade, tendo-a criado, ganhei-lhe tanta amizade como se verdadeira fora. Podia tê-la poupado? Podia mas, com a idade que tinha, o pouco tempo que pudesse ter-lhe concedido seria preenchido por sucessivas moléstias e desnecessários sofrimentos, em vez do fim suave e feliz com que terminou os seus dias. Tomáramos nós, os de duas patas , merecer do nosso criador, se ele existe, a mesma atenção em relação à oportunidade da nossa hora derradeira!

Jaz agora a Diana - acabo de lá passar – num recanto tranquilo da quinta onde passou praticamente todo o tempo da sua existência . Só um pequeno montículo onde a chuva dos últimos dias fez já nascer uma pequena camada de erva tenra , denuncia o lugar da sua campa. No ramo de uma acácia, que sobre ela estende os seus ramos, um casal de melros anuncia em alegres gorjeios a Primavera que se aproxima.

E agora volto ao meu baú de velharias de onde desencanto mais um soneto – forma poética preferida para através dela dar largas aos meus juvenis anseios. Por ele se vê que o meu pendor de cavaleiro andante se mantém, só que agora menos contemplativo, mais empreendedor, esquecida que estava a Teresinha…

QUIMERA

Não sei se é amor, se adoração
O que por ti sinto, dona do meu fado.
Sei só que ao ver-te fico transportado
Aos longínquos reinos da ficção !

Vejo-te num palácio acastelado
Incauta prisioneira de um vilão ;
E eu um cavaleiro enamorado
- O amor por divisa, a fé por galardão -


Guiado pela tua formosura,

A arder na pura chama do Ideal,

Afronto os perigos todos com bravura


E julgo-me um herói medieval,
Lutando por uma virgem terna e pura
De iluminura antiga de missal

1949

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DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Veja e ouça

http://www.camera1-fotografia.com.br/dia_da_mulher/dia_mulher.htma

Recebi agora, 8 de Março de 2007: 18.00, de um amigo de São Paulo
Samuel Iavelverg , fotógrafo


23 Comments:

Blogger Teresa David said...

Também eu se me partiu o coração quando há um mês tive de mandar abater o meu gato por estar já em sofrimento, e senti tão profundamente a sua perda, que ainda hoje quando olho o meu novo gato, por vezes, não consigo reter uma ligeira humidade que me invade os olhos.
Quanto ao soneto acho-o, sinceramente, muito belo.
Já tenho nova história no meu blog, quando quiseres...
Bjs e continua a escrever estas lindas e sensíveis histórias e retirar os teus poemas do teu bau dos sentires.
Bjs
TD

07 março, 2007 00:26  
Blogger Páginas Soltas said...

Foi com emoção e uma lágrima a rolar que li...que a Diana já partiu!
O relato que fez dela...emocionou-me...
E o facto de saber que já não a tem...maior dor senti!

Também tenho o Óscar...( meu cãozinho)...e nem quero pensar o dia que ficarei sem ele!

O soneto, tirado do baú das recordações...é lindo!!

Um bem haja por o partilhar connosco!

Beijinhos meu amigo....e até breve!

Maria

07 março, 2007 00:57  
Blogger Maria Carvalho said...

Adoráveis as tuas poesias, encantadoras as tuas prosas António! É um prazer ler-te. Obrigada pelas palavras que me deixaste nos meus dois espaços, as quais sempre me enternecem. Muitos beijos meus.

07 março, 2007 07:59  
Blogger sofialisboa said...

aís os nossos amigos de 4 patas, são mesmo muito especiais e quando se vão é que se sente uma dor... animo amigo antonio bjs de mim sofia

07 março, 2007 10:02  
Anonymous Anónimo said...

Onde estão meus olhos rasos
não sei lá onde os guardei
tinham tantas pérolas incoerentes
tantos limos, tantas frentes
onde os guardo, a quem os dei
não sei..não sei..,
perdi-lhes o rasto
em noite de çéu aberto
brincavam com as paredes do meu quarto,
entrelaçavam luz, estrelas, fogo fáctuo
entre pedras, musgo e mato.
onde estão os olhos tais
que fugiam c´os pardais?
Não que os queira em minha fronte,
novos olhos estão a monte
e não são olhos; são cristais.

07 março, 2007 14:19  
Anonymous Anónimo said...

Esquecido que estavas da Teresinha, que nome tinha a dona do teu fado? Acho que nenhum por ora.. Tu, cavaleiro e eterno trovador aguardavas a vinda de uma dama, que virias a adorar e a ser adorado.

Quanto à Diana, que nem eu esqueço já, de tão terna fora a sua história, teve a sua hora, como têm todos independentemente do número de patas. Tudo faz parte do processo natural da Criação, até as memórias e a poesia.

Beijos

07 março, 2007 15:26  
Blogger Menina do Rio said...

Comoveu-me a historia de Diana e o soneto Quimera...
Deixo-te aqui um beijo!

07 março, 2007 17:59  
Blogger Páginas Soltas said...

Meu querido amigo,
Ao ler o seu comentário acabadinho de chegar ao meu " espaço"...confesso que a minha admiração por si ainda aumentou mais!
Grande romancista/poeta...!

A história da Diana...a que eu já sentia um enorme carinho e sofri com a sua perda...não passou de pura ficção!

Só me resta...fazer-lhe uma vénia... do Grande escritor que é... que passou da ficção para a realidade!

Sinto uma certa vaidade...é ser sua leitora!

Beijinhos da

Maria

07 março, 2007 17:59  
Blogger david santos said...

Olá!
Desculpa, querido, amigo! Eu não aguento!
Desculpa.

07 março, 2007 18:58  
Blogger Pepe Luigi said...

Caro António,
Eu que também adoro animais, nomeadamente cães, sei bem o quanto estás a passar. Todos nós temos que nos lembrar que a vida é uma passagem com princípio, meio e fim. Compreendendo esta natureza aproveita para te lembrares que na parte do meio homem e animal preencheram a razão da existência.

Pois é! Mais um bonito poema com a chancela de António Melenas.

Um Abraço Amigo.

07 março, 2007 19:16  
Blogger António Melenas said...

Queridos Amigos e Amigas que visitaram até agora este "post" e o anterior. Começo a aperceber-me, surpreso, que muitos de vós (senão todos) interpretaram o texto sobre a Diana, como tratando-se da história romanceada de um cão real, quando na verdade é apenas uma criação literária. Talvez tenha exagerado na dose de realismo, mas nunca pensei que a ponto de criar esse equívoco.
Aqui reponho a verdade com pedido de desculpa aos que se emocionaram por causa de um canídeo que nunca. existiu. A verdade porém, é que eu próprio acabei por ser contaminado por essa emoção. É a força da literatura!

07 março, 2007 19:21  
Blogger Matvi. said...

Tu soneto muestra que eres un Quixote.
Un abrazo, amigo

08 março, 2007 01:15  
Blogger Licínia Quitério said...

Ficcionista e poeta. Assim confundes sonho e realidade. Mas não TE confundes. Invejável lucidez.

Um beijinho,Amigo.

08 março, 2007 09:17  
Blogger Cusco said...

Olá amigo António. Obrigado pelo simpático comentário na minha humilde casota.
Em relação à Diana, assim que li o texto anterior fiquei com a sensação de que o que estava lá escrito era algo mais do que a história da grande Diana. Daí o meu comentário ao texto ter sido feito da forma como foi. Achei que aquilo era um recado, uma reflexão de vida, era um pouco a nossa vida. A minha, a sua…a de todos.
Um texto muito belo, muito bem escrito e sabe continuo a pensar que o texto TEMPO DE TREVAS é um dos melhores que tenho lido nesta imensa blogosfera.
Um abraço para si e um beijo para as Mulheres da sua vida!
Até breve
SE DEUS QUISER

08 março, 2007 10:51  
Blogger Cris said...

Beijinhos e Bom fim de semana
Cris

09 março, 2007 00:48  
Blogger Maria said...

Tão novinho e já a escrever assim...
Devias ser "fresco" António...
Bom fim de semana
Um abraço

09 março, 2007 22:58  
Blogger noreinodafantasia said...

Vim de novo! Teria tido dúvidas que eu tivesse chegado realmente aqui??
Vim e li tudo...da primeira vez...desta foi mesmo só para lhe poder responder.
Cada um escreve o que sente e só lê quem quer...eu quis...apesar de achar que duvida disso ou será que estou enganada e apenas duvida das minhas capacidades de comentar no sítio certo?

"Vous ne me connaissez pas encore. Vous me faites grand tort de juger de moi par les autres." Molière

Um abraço e grandes inspirações líricas

10 março, 2007 11:27  
Blogger a d´almeida nunes said...

Amigo António Melenas
Boa noite. O dia esteve fantástico de Sol e Luz e Temperatura amena.
Afinal o não ter conseguido deixar aqui um comentário, há dias, foi azelhice minha.
Esqueço-me que o IE nos coloca algumas janelas na barra de navegação inferior, "escondendo-as" dos distraídos como eu.
Será que já ando a precisar de reforma?!
Um abraço amigo
António

10 março, 2007 19:46  
Blogger Manuel Veiga said...

confesso-me um pouco apaixonado pela "tua" Diana. espero que volte a este mundo. em carne e osso, quer dizer, reviva nos teus textos...

o soneto é bem digno de Petrarca. pena a menina não se chamar Beatriz...

abraços

10 março, 2007 22:46  
Anonymous Anónimo said...

Não haja dúvida, caro António: quem escreve prosa e poesia deste tom e valia, tem uma profunda sensibilidade e qualidade inegável, que a mim somente me resta apreciar com prazer e estima. Venham de lá mais velharias destas, para nosso deleite. Parabéns e óptima semana.

11 março, 2007 21:54  
Blogger LurdesMartins said...

António, afinal parece que ainda há por aí uns princípes... aqui vislumbrei um... e montado no seu cavalo branco, como manda o figurino!
Bonito poema!!!
Gosto muito de ler o que escreve, a sério!

Beijinhos

12 março, 2007 21:21  
Blogger Amita said...

António, senão tivesse lido o teu esclarecimento sobre o texto que me emocionou, dificilmente conseguiria agora comentar, dado que tantas lembranças me trouxe.
As tuas palavras em prosa e em poesia são grandes e muito me encantam.
Com muito carinho te abraço.
Um bjo

13 março, 2007 11:10  
Blogger lena said...

António, meu amiguinhos

este soneto é tocante, senti a melodia e encantei-me

vi-me num castelo...

e era um herói...


sobre a Diana desde o principio que soube ser um momento por ti descrito, uma criação tua, muito bem narrada

abraço-te com muita ternura e beijinhos muitos para ti

lena

19 março, 2007 17:16  

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