ESTOU ZANGADO !!!!
Assim tem acontecido, sem nunca falhar ao longo dos últimos 18 anos. Este ano, e pela primeira, vez não pode ser em Fevereiro e foi na última Sexta-feira, 9 de Março.
Também sem falhar componho todos os anos uma versalhada que leio no fim do jantar, entre risadas bem humoradas e razoavelmente bebidas, como se compreende.
Os versos que fiz este ano, porém, nada têm de jocoso. O que vejo à minha volta, o que leio e o que ouço não é de molde a despertar a minha veia humorística. Antes pelo contrário, deixa-me muito zangado. E é essa zanga que os versos que fiz reflectem.
Tenho a impressão que não vão agradar a alguns visitantes deste blogue. Paciência. É o que sinto e é o que digo. Como sempre. Há muitos Antónios dentro de mim, como se comprova pela amostra junta:
A REVOLUÇÂO SEQUESTRADA
Quando Abril chegou ‘inda sonhei
Todos iam ter casa, iam ter pão
Mais justiça, saúde, educação…
Mas o sonho acabou e em tudo errei
Maior é o desemprego e a pobreza
Há novos tubarões e mais vorazes
A riqueza mudou de mãos apenas
Pululam as fortunas obscenas
E trepam ao poleiro os incapazes
Justiça é coisa que não há
Encerram-se escolas e hospitais
Maternidades, serviços de urgência…
Não dá para atinar com a inconsciência
Que leva cometer desmandos tais
Em ricos gabinetes os ministros
A compasso e a esquadro traçam planos
Nos quais apenas conta o deus Cifrão
Sem cuidar sequer se sim ou não
Vão afectar a vida a seres humanos
Aumenta a corrupção e o compadrio
Da podridão se sente ao longe o cheiro
A corja dia a dia se empanturra
Na ânsia de poder encher a burra
E engordar suas contas no estrangeiro
E a revolta nasce e cresce em mim
Se em tais pensamentos me enleio
Mas chego sempre à mesma conclusão:
Não tem culpa nenhuma a revolução
O mal foi, isso sim, pará-la a meio
Há contudo um bem qu’inda persiste
Que é poder dizer o que ora digo.
Porém se toda a gente se amochar,
Se face às injustiças se calar,
Até esse direito fica em perigo
Enquanto eu tiver voz e me deixarem
P’ra quem quiser ouvir, clamando vou:
É urgente que se tome a decisão
De libertar de vez a revolução
Que alguém cobardemente sequestrou
______________
PS: Nem de propósito: No DN de 14-03-2007, Pedro Rolo Duarte, escreve um artigo intitulado "Denominador Comum", que no seu último parágrafo fala precisamente da política feita a régua e a esquadro e no possível grito de revolta: "O tempo agora, na política, como em quase tudo, é de pragmatismo e frieza. Não significa que seja melhor - mas em princípio será mais eficaz. Resta saber quanto tempo dura esta moda até o eleitor, o consumidor, o cidadão, se fartar desta régua e esquadro e desejar novamente uma lágrima ao canto do olho. Ou um grito de revolta. Já vimos de tudo nas últimas décadas. Vamos voltar a ver." Não estou sozinho. E o grito de revolta, pela minha parte, já aí está |
39 Comments:
estou contigo camarada
também grito e vou contigo
levo comigo esta espada
vamos todos á molhada
Á REVOLUÇÃO! MEU AMIGO.
(e eu que gostava tanto de ir ao môlho carago!!)
eu não quero entrar em discussões politicas, mas o que aconteceu foi que Abril, tal como as pessoas o imaginaram, foi apenas uma ilusão, nunca aconteceu, o que a suposta revolução sem sangue trouxe de bom foi... NADA. Liberdade? não a vejo. Melhores condições para todos? onde? sistemas de saúde e de educação melhores e mais justos? essa é a piada do ano.
Destruiu o pouco que havia de bom e ainda acrescentou mais umas coisitas... tem toda a razão em estar zangado...
Beijinhos
Cris
O meu comentário não é para responder a ninguém. Cada um é livre de expressar as suas opiniões. Só quero que fique bem claro (e isso está bem patente no poema) que nada tenho contra a revolução. Antes pelo contrário. O meu lamento é apenas contra o facto de a terem empalmado.
António, se os versos apenas espelham uma verdade que é a realidade dos nossos dias, porque havia alguém de não gostar? Tens toda a razão em estar zangado. Tu e aposto que a maioria do país. Se é que ainda somos país. De facto, isto está irreconhecível. Acho que se houvesse uma revolução eu também aderia. E claro, colocava pessoas como tu no poder, talvez até tu próprio, que com essa cabeça saberias escolher um grupo em condições para dar rumo a isto. O unico problema deste país é que é sempre governado pelas pessoas erradas.. caramba..
Que nunca a voz te doa.
Quem poluiu, quem rasgou a Revolução do nosso contentamento?
Antes da Revolução era o charco. Depois vieram águas limpas. Como sempre acontece, alguém as turvou. Muitos gritos as hão-de clarear de novo.
Beijo, Amigo.
Fiquei arrepiadinha, António.
Consegues escrever o que muita gente sente e não é capaz de pôr no papel em forma de verso.
Hoje apetece-me gritar, contigo, que
A Luta Continua!
Um beijo, Camarada!
Nem mais António! Concordo contigo. De facto, os ideiais por um país melhor têm ido por água abaixo...beijos para ti.
Goste-se ou não, é a realidade que uma grande maioria do povo português sente dentro de si.
Saudações!
Olá António!
ès um querido!!
estiveste bem!
E não estejas zangado...temos que ir aceitando o que por vai vindo!!!
Beijinhos!
:)
Poesia-texto-protesto.
Ficou perfeito, querido!
Querido amigo, António. Eu não sou, nem de perto nem de longe, um frustrado. Apesar de ter marcas também não tenho ódio. Isto para dizer que estou a 100% de acordo contigo. Pois sei que também tens marcas e que não tens ódio. Mas para provar o meu total cacordo contigo, aqui te vou deixar um trabalho meu, por acaso já com uns anos e que foi publucado pela Editora Editorial Minerva. Este trabalho faz parte do livro com o título "Poiesis volume XIII"
ÁGUAS POLUÍDAS QUEIMARAM-TE O SOL
Ervas daninhas saídas dos charcos
venderam-te tudo,
mas que grande rol!
Oporunistas e vigaristas natos
entraram na Festa vestidos de Entrudo,
como águas poluídas queimaram-te o sol.
Sem ouro nem nada do que era teu,
roubaram e venderam todo o teu bem,
Hoje são milhões os que passam fome,
a agricultura, dos campos fugiu,
já não há courelas para ninguém,
tem que vir de fora tudo o que se come.
De heroi a cobarde!?
Não. Não acredito na transformação.
Foi a euforia que te fez esquecer a prol.
Hoje, com saudade,
vêz tristeza e desiluzão,
águas poluídas queimaram-te, o Sol.
Abraços amigo. A luta continua...
Concordo plenamente com o poema de protesto, só que apesar de ter 22 anos quando se deu o 25 de Abril, nunca acreditei que o País fosse alguma vez ser um Paraíso de igualdade e justiça, pois isso é contra natura uma vez que seja qual fôr o partido que lá esteja, o cheiro de poder de imediato torna as pessoas ansiosas de mordomias e eivadas de uma amnésia em relação ao povo. Sou libertária por natureza e creio numa utopia que só seria possível com uma mudança radical das relações de poder onde cada qual seria responsável para a construção de uma sociedade justa. Logo, o eterno lamento de "eles" são os culpados não existiria, pois todos teriam de activamente participar.
Bjs e continua com a revolta positiva que nos mantem vivos!
TD
É preciso avisar (de novo) a malta.
É urgente palmilhar novos caminhos, sem esquecer os velhos, que de tantas esperanças certas nos encheram.
Solte-se pois a liberdade, se não, logo logo aí iremos!
Cheguei, li e gostei.
Continuação de boa semamna.
meu querido amigo, zanga-te sim... estamos a entrar numa fase em que o dinheiro e o lucro valem mais que o homem...bem hajam os que falam contra este sistema, outros fazem os seus pequenos mundos, outros nada fazem...estou contigo embora tenha que reconhecer que de comunista nada tenho (espero que não me leves a mal está bem? muitos beijinhos cheios de primavera sofialisboa
Meu Amigo António Melenas,
Este verso bem ao seu jeito ilustra muito bem as injustiças sociais, cuja solução foi uma miragem sonhada para quem atravessou largos anos de obscurantismo.
Eu também constacto com muita mágoa os caminhos enredosos que a nossa bela revolução de Abril acabou por nos encaminhar.
Grita! Amigo grita! Que eu gritanto também me junto a ti!
Um abraço amigo
Pepe.
Olá António! Os últimos cinco versos são simplesmente espectaculares: Fazem-me lembrar algo de…Pablo Neruda!
Sabe, acho que quem passou fome, quem lutou por ideais, quem teve amigos ou familiares ou simplesmente conhecidos outrora apodrecendo em Estrelas de Seis Pontas e actualmente vê as coisas encaminharem-se para um ponto em que tudo se aproxima do mesmo, deve mesmo gritar e exigir que todos gritem e se zanguem..Mas deve zangar-se mesmo, nem que seja com uns versos espectaculares..
Não estou a conseguir hoje fazer aquele comentário que queria, talvez porque o dia que se aproxima e sobre o qual acabei de fazer um pequeno post me está a baralhar as ideias..
Mas conte comigo… para gritar também...
SE DEUS QUISER
mas mudamos? vim cá da parte da manhã e não havia esta tua linda fotografia??? partidas? bem hajas pela tua energia também. sofialisboa
Comentei...e não aparece aqui o que escrevi... :((
Terei escrito algo que o meu amigo não gostou? :((
E eu que gosto tanto de o ler... mesmo ZANGADO!
Abraço amigo da
Maria
Minha querida Amiga,
Juro que, para este post que não recebi outro comentário seu, que não este. Porque não o havia de pôr se o tivesse recebido.
Um abraço
Peço desculpa pela minha confusão... devo ter lido o seu post...e geralmente...releio sempre. E no final faço o comentário á minha maneira.
De facto...devia ter pensado que escrevi...e não o fiz!
Ai...esta cabeça!
O que eu " pensei" que escrevi... foi o meu sentimento de revolta... tal como o do meu amigo António.
Revolta por este país assim como está... Aliás...dos governantes deste país...que nos vão tirando o tapete debaixo dos pés ( como se costuma dizer)!
E de todo o conjunto ( que nós trabalhadores) e Aposentados( tal como o seu caso e o meu) nos sentimos ludibriados...enganados!
Não tenho o poder das palavras como o Amigo António... mas faço das suas as minhas...e junto o meu grito ao seu... TAMBÉM ESTOU ZANGADA!
Beijinhos de amizade da
Maria
Sabes o que diria a minha mami? Quem não gosta, meta à borda... (risos) Azar!
Resposta ao comentário anterior:
Pois, pois... Já a minha Mamy, mulher do Norte, costumava dizer:
Quem gosta de m...., nela se lambuza.
Eu não gosto (risos) azar!
Vim p'ra ver a foto.. ai que rica carita, muito sossegado, nada que se pareça com uma pessoa em revolta. Devias estar um ar menos sereno, assim p'ro zangado e com a espada em punho.. bem afiada! :)
pois tá morganita, bem; se a revolução de quem se fala foi com cravos, esta próxima já tem 1 série de lanças.ó antóno, a minha de tão afiada, já não poupa ninguém
bute todos prá guerra..
Olá António, prazer em vê-lo!
São giros esses jantares, não são?!?
Essa sua revolta interior é partilhada por muita gente! Até por mim, que apesar de praticamente ter sempre vivido no pós revolução, vejo as coisas a encaminharem-se para... sei lá para onde...
Beijinhos
Atenção blogger!
Informação do jantar de Primavera dos bloggers
No blog http://momentosdeluar.blogspot.com/
Bom fim de semana para todos!
António,
Deixei um "dever de casa" para você lá no blog, espero que faça, pois se não fizer farei como as professoras antigas... te deixarei de castigo.
Beijinho
Reparei que a tua idade mudou desde a última vez que visitei o teu blog, logo poderei deduzir que fizeste anos. Verdade? Se a minha especulação estiver certa mando-te os parabéns, senão, recebe-os na mesma pela vivacidade de continuares a acompanhar a mundo á tua volta com um sentido crítico e acreditar que a vida pode ser melhor.
Pelo meu lado já tenho nova história publicada.
Bjs e bom domingo
TD
Tem graça. Fiquei muito admirado com a constatação da Teresa David de que mudei de idade nos últimos dias, uma vez que não paço no post qualquer referencia a essa mudança. Afinal fui ver o meu perfil e verifiquei que o próprio blogue fez automaticamente a actualização de 77 para 78.
E esta hein?
e esta, hein?
Pois se assim foi, aqui lhe envio os Parabéns. Muitas Felicidades.
E, Amigo António, continue sempre a falar assim, sem papas na língua.
Tomara muitos jovens deste País fossem mais reeinvidicativos, pois precisamos de sangue novo na Luta pelos nossos direitos.
Junto-me a si, no Grito de Revolta.
Apeteceu-me «Olhar, sentir, captar»
No regresso, vim por Aljezur, parei nas Azenhas do Mar, passei em Vila Nova de Milfontes, depois Ilha do Pessegueiro e, já o sol ameaçava se esconder, cheguei a Porto Covo, onde assisti ao maravilhoso espectáculo do pôr-do-sol.
Aqui, fiquei presa ao chão, estarrecida com tamanha beleza do horizonte, da força do mar e, captei com a minha objectiva as mais fabulosas fotos de toda a viagem.
Andei por aí, meti o nariz… como faço, como gosto, como quis!!!...
Bom domingo.
Beijos e abraços.
que nunca a voz (de poeta) te doa! e a inspiração te falte. excelente o teu poema.
abraço
Excelentes estes versos, amigo António! Pena que sejam tão verdadeiros! Precisamos de uma nova revolução que nos traga de volta a verdadeira liberdade e igualdade social. Somos responsávies por isso e cabe-nos a obrigação de ajudar os jovens a continuar essa luta que pode demorar... mas é imprescindível.
Parabéns pelos 78. Gostei da foto.
Beijo.
Aplaudo tudo o que aqui disse....
junto o meu grito de revolta ao teu, meu querido amigo António
estes versos são a verdade
a revolta tomou conta de mim e estou plenamente de acordo contigo, meu bom amigo
o meu pai também trabalhou na C.P., no Entroncamento
hoje estaria tão ou mais revoltado quanto eu ou tu
abraço-te com muita ternura
beijinhos para ti, muitos
lena
Amigo António...
Então fez uma pausa?
Espero que esteja tudo bem...
Vinha procurar mais...e mais...
Mas pronto... volto outra vez!
Aqui fica o desejo de boa semana
e um abraço amigo da
Maria
E então o menino faz anos e não diz nada ao pessoal?!??!? OLhe que eu fico como o título deste post... exijo uma fatia de bolo, no mínimo!
Beijinhos
Amigos e Amigas,
Hoje é dia de Festa - o 2º aniversário do KALINKA. Espero-vos para o tchim-tchim com o espumante.
COR - ALEGRIA - ANIMAÇÃO - MÚSICA serão constantes durante todo o dia.
Escolhi um lugar paradisíaco; compareçam com traje normal, à vontade; estarei todo o dia à vossa disposição; haverá momentos de poesia, convívio e até dança, além dos comes e bebes.
És mesmo um grande homem sabias.
Ainda bemm que te revoltas e não te calas... tambem sou assim e tu sabes... tantas são as nossas diferenças, idade, experiencias, ideologias, crenças, sentires... sei lá... e no entanto estamos tão próximos na nossa forma de olhar a vida.
Ando há dias para aqui vir tantas saudades tinha de te ler, mas a vida e o trabalho tem apertado demais nestes dias.
Como imaginas encantei-me com o teu doce poema mas o teu poema irado prendeu-me... talvez por tanta coisa à minha volta me irar tambem.~
Até me podem levar a voz... mas deixem-me as palavras e os dedos para que possa escrever: O amor, a amizade, a diferença, a vontade, o desejo, a paixão, tambem a ira e a revolta.
Sabes que admiro muito o Pedro Rolo Duarte... é um conservador com abertura e visão de longo alcance.
Nem de propósito encontro aqui este artigo e a tua empatia com o Pedro Rolo Duarte que eu considero neste momento na nossa praça, dos jornalistas, escritores com melhor capacidade de análise.
Vou voltar a escrever-te assim que puder. tenho muitas coisas sempre para te dizer.
Gosto de ser surpreendida e tu és uma permanente surpresa.
Que bom que existes António.
Isabel
Parabéns por mais este magnífico trabalho, é sempre um prazer passar aqui.
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