1.25.2006

O MEU AMIGO ARTUR


Artur José da Silva Vaz era o seu nome completo.
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Filho de pai e mãe ferroviários, ele do Retaxo (terra de bom azeite) na Beira Baixa e ela de Lisboa. o Artur - como acontecia com os filhos de muitos ferroviários, dada a mobilidade que, ao longo da vasta rede do caminho de ferro, o exercício das sua funções exigia - acabou por nascer acidentalmente em Setúbal.
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Apesar de morarmos bem perto, eu em Moscavide e ele na estação de Braço de Prata, numa casa da Companhia, junto dos pais e de duas irmãs que adorava, contactei com ele pela primeira vez em 20 de Setembro de 1948, data em que ambos ingressámos, como praticantes de escritório nos serviços centrais da CP, em Santa Apolónia. Eu que, detesto números, fui colocado numa repartição ligada à contabilidade, a ele, mais dado a contas, coube-lhe a repartição de recrutamento de pessoal. A vida prega-nos cada partida!Logo ficámos amigos – uma amizade que iria durar toda a vida.
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Éramos tão parecidos fisicamente, que muita gente nos julgava irmãos: mesma estatura, o mesmo tom de pele, o mesmo ar corado, o mesmo nariz aquilino. E, contudo, éramos diametralmente opostos no que toca a gostos e conceitos de vida. Eu, era relativamente organizado e metódico; ele, um nossa-senhora-não-te-rales. Eu, era bastante cuidadoso com a forma de vestir; para ele, bastava andar vestido. Eu, era virado para as letras; ele, cultivava o gosto pelas coisas técnicas. Eu, deleitava-me com a leitura de um poema; ele extasiava-se com o funcionamento e a minúcia de um qualquer mecanismo. Eu, lia a Vértice; ele, adorava embrenhar-se na Science et Vie. Ele, admirava o american way of life; eu abominava (e abomino) o modus vivendi dos “camones”. Eu, apreciava a argúcia bonacheirona do comissário Maigret; Ele, delirava com a cínica violência dos personagens de Mickey Spillane.Duas características haviam, no entanto que nos irmanavam. Uma, era a paixão pelo cinema - da parte dele em doses industriais, papava tudo quanto houvesse e era capaz de ir assistir apenas à segunda parte do 2º filme de um dos muitos cinemas de reprise que então havia em Lisboa; da minha parte, essa paixão exercia-se de uma forma mais selectiva – a outra, era a incontida aversão ao regime salazarista.
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Passámos a andar sempre juntos. Um, falava de alhos e o outro, de bugalhos. Falávamos, falávamos,mas nenhum de nós escutava o que o outro dizia. Isso não era importante e não impedia o estabelecimento de uma forte amizade. Ás vezes tínhamos acaloradas discussões mas no fim já nem sabíamos porquê, e acabávamos rindo de nós mesmos. Nunca nos zangámos.Era um moço afável, generoso, leal, e extremamente prestativo.
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Quando me casei ele foi incansável nos pequenos trabalhos, adaptações e arrumações que uma casa nova sempre necessita. Fez questão em me fazer uma mesa com o tampo de abater quando não em serviço, fixa numa das paredes da cozinha.Foi objecto de tantos estudos, tão elaborados cálculos e pesquisa de materiais que, proporcionalmente me deve ter custado quase tanto como a ponte sobre o Tejo em Alcântara. Mas resultou funcional e de tal modo firme, que teria de deitar a parede a baixo, se a quizesse levar, quando mais tarde mudei de residência. Possivelmente, e já lá vai quase meio século, ainda lá estará, firme, como testemunha do primeiro café da manhã que eu e a Adelina ali tomámos a seguir à noite de núpcias.
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No nosspo casamento era previsto participarem exclusivamente pessoas de família, mas depois de tanto trabalho do Artur, depois de tanto empenho para que a casa dos noivos ficasse nos trinques, era inimaginável que o meu Amigo ficasse fora da festa. Ele foi a única excepção à regra. Mas ele era um verdadeiro irmão.
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Um dos nossos passatempos de praticantes de escritório sem cheta no bolso era, de brincadeira, comprimir a cara e os lábios contra a montra das pastelarias finas (Benard, Império e outras) para, de olhos arregalados, ver, como dizíamos, “aquilo que os ricos comem”. Algumas vezes os empregados nos escorraçaram a pedido das respeitáveis madamas, naturalmente incomodadas com a fixidez do nosso olhar acompanhando cada garfada que, com gestos requintados introduziam nas boquinhas delicadas, evitando esborratar a linha do carmesim dos lábios. De quando em vez, contados ostensivamente os tostões que vasculhávamos nos bolsos, entrávamos também e com exagerados motetes, lambidelas de exagerada volúpia e olhos em alvo, deglutiámos encostados ao balcão, virados para as senhoras, uma pirâmide de chocolate granitado recheada de licor, muito em voga na época e de que nós éramos fanáticos apreciadores. Era uma festa, nesses dias!
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Juntos mergulhámos na acção política de oposição ao regime. Eu, por ideologia, ele por solidariedade e confessado espírito de aventura. Juntos distribuímos panfletos, juntos pintámos palavras de ordem em velhos muros. Algumas delas ficaram incompletas com a aparição de algum intruso que nos fez largar os pincéis e a lata e dar à sola enquanto era tempo. Ainda não há muitos anos tive ocasião de ver uma dessas inacabadas inscrições (às armas contra o fasc…) inscrita numa parede, ali para os lados de Cabo Ruivo, muito debotada, mas ainda resistente ao tempo (pudera! a formula da tinta era invenção do Artur). Mais resistente foi a iscrição do que o dito fascismo que acabou (acabou?) por se desmoronar, não muitos anos depois. Este tipo de palavras de ordem eram de verdadeiros franco-atiradores, o palavreado era da nossa lavra e não obedeciam a instruções organizadas de ninguém.
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Alguns dos panfletos eram redigidos por mim mas ele nem se dava ao trabalho de os ler. A ele importava, sim, a maneira de os distribuir. Chegou a imaginar (e fez experiências nesse sentido) uma espécie de foguetão que fizesse cair uma chuva deles num campo de futebol numa tarde de domingo (sim, nesse tempo os jogos realizavam-se nas tardes de domingo, juntando ao fulgor do desporto e ao entusiamo dos adeptos a alacridade do sol daquelas saudosas tardes de bola.
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Junto nos envolvemos na campanha eleitoral para a Presidência da República no verão de 1958. Primeiro pelo candidato Arlindo Vicente e depois por Humberto Delgado. Na sequência destas houve uma enorme vaga de prisões e nós estávamos na mira da PIDE.
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Com efeito, na manhã do dia 13 de Janeiro de 1959, acompanhados do nosso Chefe de Serviço, dois agentes da PIDE irromperam pela repartição, situada na Calçada do Duque onde na altura, trabalhávamos os dois. Era uma sala enorme com umas duas ou três dezenas de secretárias onde funcionavam algumas secções que nada tinham a ver umas com as outras. Vinham para prender o Artur.
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Uma vez identificado, começaram a vasculhar-lhe a secretária. A dada altura, o Artur deu um encontrão num dos pides e desatou a correr pelo mei0 das secretárias, saindo porta fora, perseguido de pistola em punho pelos dois agentes.Atrás da porta e do guarda vento por onde ele desapareceu, veloz que nem láparo perseguido por caçadores, havia três saídas: a da frente dava acesso ao gabinete do Chefe de Serviço, a da direita, por onde os pides tinham entrado, dava para o pátio interior, e a da esquerda, através de uma escada de caracol, um estreito corredor e outra escada de caracol, que só poucos conheciam, levava direitinha à gare de embarque da estação do Rossio.Os pides viraram à direita enquanto o Artur, conhecedor dos cantos da casa, virou à esquerda, esgueirando-se pela escada de caracol. Chegar à gare desaparecer entre os passageiros aglomerados na plataforma, foi obra de um momento.
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Entretanto, logo que eu ouvira os Pides darem ordem de prisão ao Artur, tinha saído imediatamente para o pátio e ido por todos os escritórios circundantes a dar o alarme de que o estavam prender e a exortar os colegas a virem manifestar-se contra tal acção (acudam que prendem o mestre, diria o velho Fernão Lopes). E lá veio tudo para o patio: escriturários, contínuos, cozinheiras e todo o pessoal da cantina, situada mesmo de fronte. Assim, quando os pides saíram, cabisbaixos, depararam com um numeroso grupo de pessoas que os interpelavam e lhes chamavam todos aqueles nomes feios que os meninos só dizem quando a mãezinha não está presente e foi sob uma chusma de insultos que abandonaram as instalações da CP.
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Quando tudo sossegou dirigi-me à minha secretária para retomar o meu trabalho. ali encontrei, porém, o meu Chefe de Serviço, pálido como a cera, e mostrando-se surpreso com a minha presença, pois concluíra, apressadamente como se provava, que eu me tivesse igualmente escapulido. Informou-me então, algo embaraçado, que os pides, face à fuga do Artur, tinham manifestado a intenção de me levar a mim e que, sendo assim, não podia permitir que eu continuasse ao serviço.
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Aí, casadinho de fresco e aguardando o nascimento de um filho (que viria a ser uma menina) ao contrário do Artur que era solteiro, não estando preparado (nem tendo motivos) para fugir e impedido de trabalhar, resolvi, depois de almoçar, não digo nas calmas porque mentiria, dirigir-me à sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso de má memória para perguntar (demais o sabia eu) o que pretendiam de mim. Só voltei à liberdade (vigiada, que era a de todos os portugueses) 94 dias depois. O “tratamento” que tive enquanto lá estive foi o esperado. Paguei pelos dois.
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Entretanto o Artur conseguiu quem o acolhesse e desapareceu da circulação durante uns tempos, vivendo obviamente uma situação difícil. Ora,uns meses antes antes da minha prisão, eu tinha montado com a colaboração de vários amigos um esquema que nos permitia, através de uma subscrição em todos os Escritórios, quer da Calçada do Duque quer de Santa Aplónia, perfazer o vencimento dos nossos colegas presos, Homem de Figueiredo e Manuel Cabanas. Claro que, quando chegou a minha vez, o esquema passou também a funcionar, abrangendo-me igualmente. Só que minha mulher, tendo o seu vencimento assegurado e sabendo como encontrar o Artur, fazia-lhe chegar, direitinha, a parte que me cabia.
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Passado um ano ou dois apareceu nos jornais, com grande destaque, a notícia do naufrágio nas costas de Marrocos de uma pequena embarcação com matrícula portuguesa e o nome de Santa Margarida tendo sido salvos e entregues às autoridades os dois tripulantes, portugueses também.Não sei porque carga de água, tive um pressentimento e comentei com minha mulher: “não me admirava nada que o Artur estivesse metido nisto”. É que uma das suas engenhoca em que ele se entretinha, já havia tempos, era a construção de um barco na doca do Poço do Bispo. Então e não é que era mesmo coisa dele. Soube-o dias depois, quando foram identificados em Lisboa e entregues à PIDE. Esta coisa de pressentimentos tem que lhe diga!.
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Como entretanto eu já fora libertado fazia algum tempo e o caso não lhes deve ter parecido de gravidade, o Artur, contrariamente ao que seria de supor, saiu em liberdade poucos dias depois.Claro que nunca mais pode voltar à CP. Fazia uns trabalhos como desenhador, para os quais tinha muito mais vocação do que o trabalho de escriturário (duvido que alguma vez tenha havido na CP um tão mau empregado de escritório) e entretinha-se com as suas engenhocas, aparecendo de longe em longe, até que em fins de 1960, trabalhando então como desenhador de móveis na oficina do meu irmão Diamantino, me procurou com um ar muito misterioso para me confidenciar que, dentro de algum tempo iria participar numa acção armada levada a efeito por civis e alguns militares, destinada a criar condições para um levantamento popular visando o derrube do regime. Queria que eu o ficasse sabendo, para a hipótese do pior lhe vir a acontecer. Confesso que não fiquei grandemente entusiasmado. Tentativas dessas já houvera outras e sempre falhadas, Fiquei sim, muito preocupado com o que pudesse acontecer ao meu amigo.
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Alguns dia depois os jornais de 1 Janeiro de 1961 noticiavam em grandes parangonas que o quartel de Beja tinha sido assaltado durante a passagem de ano por um grupo de pessoas armadas, tinha havido tiroteio, no qual tinha perdido a vida um secretario de estado, a grande maioria dos assaltantes tinha sido detida e se aguardava a captura iminente dos que haviam logrado escapar. Um desses fugitivos, soube-o depois, era o Artur.
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Curiosamente o primeiro detido relacionado com esta aventura, não foi nenhum dos intervenientes. Foi o meu Irmão Diamantino. A PIDE, sempre muito bem informada através da sua extensa rede de bufos, sabia que algo se preparava, vigiava o Artur, sabia onde ele trabalhava (e julgo mesmo que dormia) e logo às primeiras notícias do golpe se dirigiu à oficina e posteriormente à residência de meu irmão. Este, porém, com a força moral de que dá uma consciência tranquila, recusou-se a franquear-lhes a entrada. Não abria a porta, dizia, a um grupo de meliantes, às tantas da madrugada. Eles insistiram, tentando forçar a entrada e ele então barricou-se, resistindo a todas as intimações e ameaças para que abrisse a porta. Entretanto nasceu o dia e como ele se mantivesse irredutível chamaram reforços: várias carrinhas da PSP. Munidos de um poderoso altifalante, que atroava toda a rua voltaram, voltaram a intima-lo. Moita-carrasco. Mandaram evacuar o prédio. Apenas o segundo piso direito continuou ocupado. Lá dentro, o Diamantino, a mulher e o filho (um menino de dois ou três nos) nem uma nem duas. Só com disparos de bombas lacrimogéneas, a partir da rua e através das janelas conseguiram faze-los sair. Procuravam armas, diziam. Meu irmão mostrou-lhes a pistola de brincar do filho, que outras não havia.Levaram-no preso, claro. A ele e à mulher. O filho ficou entregue aos cuidados da porteira. A mulher saiu poucos dias depois, enquanto ele permaneceu preso durante dois meses sem nunca lhe ter sido permitido receber visitas, nem da própria mãe a quem ameaçaram de prender também caso não deixasse de exigir que lhe mostrassem o filho. Quando saiu perguntei-lhe se lhe tinham batido. Nas primeiras horas não houve quem chegasse ao pé dele (e foram muitos) que não lhe batesse.
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Voltando ao Artur. Foi preso no dia seguinte, em Tavira. No meio do azar teve tanta sorte que uma bala lhe roçou as costelas, furou a samarra que levava vestida mas desabotoada e saiu sem lhe ter provocado o menor ferimento. Três anos e meio durou a sua prisão.Casou pouco depois do seu regresso à liberdade, abriu uma loja de móveis, mas a coisa correu mal. Ele era um criador, não um negociante. Viu-se forçado a emigrar para França (arredores de Paris), nos finais da década de 60.
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Após vários empregos, chegou a ter uma situação muito estável numa empresa de fabrico
e montagem de perfis de alumínio, Desenhava, e criava alguns desses perfis e era chefe de secção, muito cotado e respeitado pela sua competência, até que descobriram, por mero acaso, que o Messieur Vace (é assim que eles pronunciam Vaz) não era um emigrante do centro da Europa, como a sua preparação, aspecto e brancura de pele faziam supor, mas um mero portuga – tipo de emigrantes muito desdenhados na época, só utilizados nos trabalhos pesados da construção.
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A partir de então, chauvinistas como se sabe serem os franceses, passaram a desrespeitá-lo e a fazer-lhe a vida negra.Não esteve para os aturar e resolveu mudar de emprego. Começou por trabalhar como taxista. Primeiro para um patrão e depois com carro próprio. Algumas vezes viajei com ele, como amigo, claro) Estava sempre a enganar-se no traçado uniforme do quadriculado das ruas de Paris: Oh, merde ! estas ruas são todas iguais. Aliás ele preferia aguardar nos aeroportos a chegada de passageiros dos voos internacionais. Fugia do bulício do centro e as corridas eram mais proveitosas.Finalmente tinha uma vida estabilizada. Ele com o seu táxi e a mulher com um emprego nos serviços sociais da mairie do seu bairro. Tudo sobre rodas, como sói dizer-se.
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Além do seu trabalho com o táxi ocupava-se com os seus desenhos, com as suas engenhocas, tendo mesmo, julgo, registado alguns dos seus inventos no organismo internacional que disso se ocupa. A mulher e o filho, que entretanto nascera em França e é agora um homem poderão confirmá-lo e, quem sabe se não poderão um dia vir a tirar daí algum proveito, caso algum fabricante neles se mostre interessado. Bom seria que o seu valor fosse reconhecido, ao menos à posteriori, já que a sorte não o bafejou em vida.Certa vez, estava eu e minha mulher em casa de uma amiga que se encontrava em Paris, preparando-se para fazer um doutoramento na Sorbonne e disse-lhe que me havia de vir buscar um amigo português que era taxista, para irmos dar um passeio pela cidade.
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Quando o Artur chegou, bem falante, muito aprumado e acompanhado do filho, um menino muito bonito de uns 12 anos, que era nessa altura o Arturinho, em vez de um qualquer rotundo e boçal motorista, a nossa amiga não pode conter o seu espanto: mas é um gentleman, este vosso amigo!Era assim o Artur. E de repente, uma doença degenerativa começou a tomar conta dele, apoucando-o nas suas capacidades motoras, e aos poços, embotando o seu discernimento e noção das realidades. O mais difícil para ele para ele e para os amigos e familiares passou a ser a comunicação verbal, pois lhe faltavam as palavras para se exprimir e o tom de voz se apagava quase tornando, por vezes inaudível – o que muito o exasperava e nós afligia.Foram muito dolorosos para ele e para a família e para os amigos os últimos anos da sua existência.
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Faleceu no dia 30 de Setembro de 2005 . A minha filha casava-se no dia do seu funeral e a própria família do Artur achou que eu não deixar de acompanhar a minha filha nesse dia. Não pude, assim, acompanha-lo à sua última morada. Mas isso também não era muito importante. A minha despedida do Artur já tinha acontecido sete ou oito anos antes quando ele - chegado de França para me visitar, em vez da exuberante e ruidosa manifestação que costumam constituir os reencontros de quem está longe e raramente se vê - chegou junto de mim, me abraçou forte, me beijou e, trémulo, sem uma única palavra, seguiu em frente até ao fundo do quintal, onde desabou num choro convulsivo e prolongado.Outras vezes ainda voltámos a encontrar-nos. Quer na minha casa, quer na casa de uma das suas irmãs, quer, uma vez, na sua casa nos arredores de Paris, mas a verdadeira despedida do Artur – do Artur que eu conheci, aconteceu naquele dia e naquele abraço.
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O que dele resta jaz agora no cemitério de Almada. A mulher e o filho continuam em Paris. Ela, aguardando o dia em possa reformar-se e poder, eventualmente regressar a Portugal. O filho, é cidadão francês, Portugal já pouco lhe deve dizer e muito provavelmente por lá ficará.Se é certo que uma pessoa só morre inteiramente quando se extingue na memória dos que cá ficam, entendi reduzir a escrito as recordações que conservo do meu amigo Artur. Assim, ele viverá, pelo menos enquanto este texto subsistir e haja alguém que tenha a curiosidade e a paciência de o ler. De qualquer forma é também um acto de justiça, pois nos muitos relatos que tenho lido sobre o Assalto ao quartel de Beja, nunca ninguém se lembrou de mencionar o nome do Artur Vaz.
Pois aqui fica o meu testemunho.
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5-12-2005

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá querido Toino "MELENAS"
Daqui do Canada, escreve-te outro
jovem da tua idade {e que tu até conheçes muito bem}
Ora sendo eu tambem doidinho da Internet descobri o teu novo blogue
e estou a escrever para te enviar as minhas felicitações.
Admiro imenso a maneira clara e honesta como escreves e faço votos
para que tenhas ainda muitos e muitos anos de vida e que continues
sempre jovem e "malandro"
Um grande abraço R.L.

28 fevereiro, 2006 17:51  
Anonymous Anónimo said...

Anonymous said...
Gosto muito dos seus comentários políticos mas este que é um texto de amizade abafa tudo o que já li até este momento.
lg

06 Dezembro, 2005 23:13

28 fevereiro, 2006 17:57  
Anonymous Anónimo said...

Joao said...
Nao ha palavras suficientes para descrever tal prova de amizade. Gostei especialmente deste texto.

Joao Paes

28 fevereiro, 2006 17:59  
Anonymous Anónimo said...

Caro António, não deixe de deitar cá para fora as suas opiniões e histórias de vida. Dificilmente o faríamos se não fossem os blogues.
AVGS

28 fevereiro, 2006 18:01  
Blogger MEHC said...

Caro António: Eu ainda não tinha lido um texto tão longo e que me interessasse tanto, da primeira à última linha, aqui na blogosfera!
Que maravilhosa amizade fica aqui realçada e que belo retrato de uma época, que eu conheço de relatos menos vivos do que este.
Estou a ficar 'presa' a este blogue...posso linkar?
Um abraço.

07 janeiro, 2007 22:53  

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